Parte do meu trabalho é gerir
um facebook do estaminé onde trabalho. Giro uma página institucional. E como
trabalho numa instituição democrática, os nossos ‘amigos’ têm direito a colocar
na página as suas críticas, positivas, negativas, sugestões, enfim, o que
entenderem desde que ‘vestidos’ de uma linguagem sem ser obscena. Às vezes
apanho sustos. Fico sempre a pensar o que leva algumas alminhas a escreverem o
que escrevem. A atuação reflete a pessoa. Disto não tenho duvida alguma. Hoje estava
a almoçar e por mero feeling, por
receio não sei bem do quê, acedi à página através do meu telemóvel. Num post
onde convidava todos a irem assistir a uma sessão sobre o Fim da Violência
sobre as Mulheres, um homem escreve ‘Se elas levam nos cornos é porque merecem’.
Apaguei o comentário. Não o costumo fazer. Por norma aviso a pessoa sobre o que
é razoável escrever-se, mas num ato automático apaguei o comentário. Vi ainda
que era um rapaz novo (podia ser um perfil falso). Sei que a violência, física ou
psíquica, acontece em todas as gerações. Tenho uma amiga que acabou o mestrado
com uma tese sobre a violência no namoro. Existe. Já existia. E infelizmente
acredito que vá continuar a existir. Não porque elas mereçam porque ninguém
merece ser alvo de violência, mas porque eles acham que a determinadas atitudes
ou respostas, a única resposta só pode ser a violência. Este é um problema
complexo. De extrema importância. Atual, infelizmente. Neste rio ainda muitas
mulheres serão vítimas de violência. Em alguns países as mais altas instâncias
advogam uma perigosa diferença de género, rebaixando o sexo feminino (basta
irmos à Turquia). E, no fim de tudo, a minha reflexão torna-se egoísta. Penso
sempre na minha filha. E penso que quero enchê-la de certezas. De capacidade de
discernimento. De amor, muito amor-próprio para que saiba ver que um homem
violento nunca poderá ser um homem para ela. Receio muito esta sociedade. Falava
com uma amiga sobre isto. Ela perguntou-me se não tinha vontade de responder à
letra a pessoas como o tipo do facebook. Não, não tenho. Nunca tenho. Há assuntos
que me deixam mais calada do que faladora por entender que não há entendimento
entre mim, entre aquilo em que acredito, e certas bestas. Não perco tempo com
bestas. Tenho pena que elas pululem por aqui, por este mundo. A única coisa que
sei é se elas levam nos cornos não é porque merecem, é porque vivem num buraco
tão escuro, tão negro, tão espartilhado, que não vislumbram luz alguma. A
pancada é, muitas vezes, apenas a extensão da triste sina que sobre elas
aterrou.
Carla,
ResponderEliminarComo sempre excelente texto, o assunto infelizmente não podia ser mais actual sendo que já vem de gerações, um dia já lá vão uns bons anos, estava no Alentejo de férias, e falava com a senhora que nos aluga a casa (sou assim quando gosto gosto de repetir, quando sou bem tratada não quero mudar, manias tais como gosto de ter tudo sempre decorado por mim, tenho o meu pouso para ler, ver tv, até falar ao telefone ou mesmo receber amigos, só o dou quando faço "cerimónia" com o convidado) mas não pense que não mudo nada .... enquanto não encontro o lugar que acho por certo é um virote especialmente na sala e gosto de fazer isso absolutamente só, aproveito quando o meu M. sai e lá vou eu, pois já está tudo planeado na minha cabeça naquelas horas em que nos dá para a insónia, Carla acredita que nesta casa aqui em PA as paredes são duras e só lá vão com um berbequim já pedi a M. há dois anos para me colocar dois quadros, acredita que apesar de eu já ter tirado as medidas tudo certinho os benditos dos quadros ainda estão por colocar, saudades que tenho da outra casa em que quando ele chegava já eu tinha martelado e posto tudo no lugar, penso que tenho que recorrer ao vizinho que podia ser meu filho, penso que ela não me vai dizer que não, ah ah. Já nem sei onde ia ah era na conversa coma senhora alentejana lembra-se de haver uma fase em que ouvia pai violou filha (s) era um horror então comentei com ela uma pessoa daquelas mulheres a que ninguém faz o "ninho atras da orelha" e ela diz-me pois é filha (eu) aqui perto há um homem que todos sabem viola há anos a filha mas ninguém tem coragem de fazer nada. Fiquei com vontade de ir lá bater à porta e dar cabo dele , mas fiquei só na vontade , só lhe perguntei oh D. F. mas ninguém faz nada? E ela oh Julinha (eu) vontade temos mas sabe fomos habituados em não nos metermos ma vida alheia. Carla fiquei calada a pensar em quantas mulheres e meninas coabitam com estas BESTAS , agora já é crime público mas já reparou que quase todas as semanas morre uma mulher e ninguém faz nada. Vi ontem ou noutro dia o tio daquele animal que matou a mulher e possivelmente terá morto o cunhado e o dito tio dizia eu no lugar dele já há muito tempo tinha feito o mesmo. Que mundo é este onde vivemos, evidentemente que há muitos homens do bem e mulheres do mal. Mas faz bem, muito bem mesmo em ensinar a sua boneca a ser independente e a saber defender-se e a conhecer as pessoas do mal.
Só uma história verídica e acabo já, quando fui para a escola já lá vão longuíssimos anos a minha mãe que era a pessoa mais querida e carinhosa do Mundo disse-me: "olha filha não bates nos meninos/as mas se alguém te levantar a mão dá-lhe uma valente canelada" nunca foi preciso mas minha querida e saudosa Mãe tinha toda a razão ora diga lá como Mãe tinha ou não tinha.
Beijos Carla, leio-a sempre e espero sinceramente que tudo continue a correr bem consigo , sua boneca linda e suas queridas amigas, para quando o próximo livro? SEJAM MUITO FELIZES . Júlia
Julia gostei tanto do que escreveu. Esta partilha alimenta a vontade de aqui vir partilhar as minhas ideias. beijinhos
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