Páginas

sexta-feira, 30 de janeiro de 2015

Obrigada por este momento


 Há uns anos, ela tomou uns comprimidos para dormir depois de discutir de forma violenta, na vã esperança que tudo aquilo não passasse de um logro e afinal o seu marido voltasse atrás no seu desamor. Todos ouvimos os gritos e, na escadaria do prédio, houve quem dissesse que ela, coitada, vinha de más famílias, descompensada e que nunca fora uma pessoa forte e capaz de enfrentar as agruras. Enfrentar o desamor é para gente fraca, dizia-se. Pensei muito nisso. Será que a classe social define a forma como reagir perante uma traição ou um amor que se vai? O livro de Valérie Trierweiler, a antiga companheira de François Hollande, ‘obrigada por este momento’, fez-me regressar a esse prédio, recordar os gritos tresloucados da minha vizinha. E fez-me chegar à brilhante conclusão que o amor é igual em todo o lado e o desamor também. As palavras podem sair de uma boca cuidada, a louça pode ser partida por umas mãos perfeitas, mas em tudo, a forma de se reagir, é semelhante. Há contidas, serenas, histéricas, tresloucadas em todas as classes. Eu é que achava que do Eliseu a traição custasse menos a suportar. Engano meu.

De resto, o livro nada vale. É apenas usado para que possamos entrar na intimidade de um casal conhecido e poucos resistem em fazê-lo. Ver de perto se são iguais a nós. Eu não resisti. Shame on me. 


3 comentários:

  1. Tive quase para o comprar, na versão original, mas preferi investir noutro livro. Porque deste já se leu e soube tudo nas revistas e jornais, e ao ler posts como o teu faz a minha decisão ainda mais válida.
    Todo este filme e novela à la mexicana com o F. Hollande não passou disso: fumo para os olhos, enquanto o fogo se passava nos bastidores. Eu resisti em não querer ver/ler isso, yey! (por uma vez, normalmente sou das primeiras a ceder a uma boa história de cusquice)

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Eu não resisti à cuscuquice:) mas certamente que o livro que comprou é bem melhor do que este. Fez muito bem. Até na casquine, ela tem de valer a pena. Beijinhos e obrigada

      Eliminar
  2. Como diz a Oprah (agora é shame on me...) é o nosso denominador comum...

    ResponderEliminar