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quarta-feira, 11 de novembro de 2015

paulo cunha e silva

Morreu paulo cunha e silva, o vereador da cultura da câmara do Porto. Dito assim, a morte parece até redutora. O que ela levou não foi apenas um homem, um político, um pensador. Não. Não foi isto que ela levou. Se assim fosse, respirava tristeza e seguia em frente. O que a morte levou deixou um buraco difícil de ser tapado na cultura portuguesa, na sociedade. Das frases que se dizem e que eu abomino está aquela de que ninguém é insubstituível. Eu já vi tantos insubstituíveis a deixarem órfãos lugares, pensamentos, sítios. Substituem-se, mas não colmatam a perda. Não acalmam a falta. Apenas se segue em frente como seguimos mesmo quando perdemos quem nunca é substituído. Segue-se porque a vida tem esse curso, esse caudal.
Tenho até vontade de rir. A primeira vez que ouvi falar de paulo cunha e silva foi por causa do futebol, aquele jogo que muitos intelectuais teimam em repudiar e que ele, um dos mais intelectuais deles todos, descreveu numa prosa que tinha tanto de poético como de estratégia. Era tão belo que aquilo que era de futebol parecia ser o retrato de um romance, a dança de uma sinfonia. Mexeu-me com a alma. Ele levava-nos para a frente com a certeza que agora não vamos mais para o sítio para onde só ele nos conseguiria levar. E aquele Facebook! Ah, o raio do homem sabia como por uma página a mexer. Ele fazia mais pelo Porto que a pagina da própria autarquia. Ele sabia os segredos da linguagem de proximidade. Ele mostrava-se sem de desnudar. Havia ali um ponto de equilíbrio que poucos possuem.

Hoje é um dia triste. Morreu quem nos faz falta. Morreu quem é insubstituível

© Por Manuel Roberto (fotografia) 

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