Morreu paulo cunha e silva, o
vereador da cultura da câmara do Porto. Dito assim, a morte parece até
redutora. O que ela levou não foi apenas um homem, um político, um pensador. Não.
Não foi isto que ela levou. Se assim fosse, respirava tristeza e seguia em
frente. O que a morte levou deixou um buraco difícil de ser tapado na cultura
portuguesa, na sociedade. Das frases que se dizem e que eu abomino está aquela
de que ninguém é insubstituível. Eu já vi tantos insubstituíveis a deixarem órfãos
lugares, pensamentos, sítios. Substituem-se, mas não colmatam a perda. Não
acalmam a falta. Apenas se segue em frente como seguimos mesmo quando perdemos
quem nunca é substituído. Segue-se porque a vida tem esse curso, esse caudal.
Tenho até vontade de rir. A primeira
vez que ouvi falar de paulo cunha e silva foi por causa do futebol, aquele jogo
que muitos intelectuais teimam em repudiar e que ele, um dos mais intelectuais deles
todos, descreveu numa prosa que tinha tanto de poético como de estratégia. Era
tão belo que aquilo que era de futebol parecia ser o retrato de um romance, a
dança de uma sinfonia. Mexeu-me com a alma. Ele levava-nos para a frente com a certeza
que agora não vamos mais para o sítio para onde só ele nos conseguiria levar. E
aquele Facebook! Ah, o raio do homem sabia como por uma página a mexer. Ele
fazia mais pelo Porto que a pagina da própria autarquia. Ele sabia os segredos
da linguagem de proximidade. Ele mostrava-se sem de desnudar. Havia ali um
ponto de equilíbrio que poucos possuem.
Hoje é um dia triste. Morreu quem
nos faz falta. Morreu quem é insubstituível.
© Por Manuel Roberto (fotografia) |
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