Um amigo questionava, aqui há dias, no seu
mural do Facebook, porque motivo a plataforma Maria Capaz ainda não tinha
lançado um texto sobre a barbárie que aconteceu na noite da passagem de ano em
Colónia, na Alemanha ( que entretanto escreveu). Desenvolveu-se um rol de comentários que, parece-me,
mostra ou demostra como o feminismo no seculo XXI não só é necessário como não
é, ainda, entendido. A palavra, a sua origem, pode levar a equívocos, mas
ser-se feminista não é SÓ coisa de mulheres para com outras mulheres; ser-se
feminista é coisa de todo e qualquer ser humano, mulheres e homens, para com as
injustiças perpetradas a mulheres. À primeira vista pode não parecer uma grande
diferença ou até que não é relevante, mas é uma diferença abissal. É a
diferença entre ser apenas a plataforma Maria Capaz e outras de igual natureza
a escrever sobre o que aconteceu na Alemanha ou serem todos aqueles que se
indignaram, sejam mulheres ou homens, ou plataformas feministas, ou masculinas,
ou gay, ou em prol dos animais e por aí fora. Todos. O feminismo não é SÓ coisa
de mulheres. A primeira pessoa feminista que conhecei na vida foi o meu pai.
Entre mim e o meu irmão não havia diferenças de tratamento e exigência. Talvez
isso justifique, por um lado, esta minha veia de feminista - eu que até sou, de
certa forma privilegiada. Por outro lado, encanita-me
profundamente quando vejo rotularem o feminismo como uma preocupação de
mulheres (já para não falar nas mulheres que não se identificam com o feminismo,
como se isso não lhes dissesse respeito. É como aquela mulher que sabe que a
colega ganha menos pelo mesmo trabalho, mas como ela é justamente paga a luta
não é dela, não lhe diz respeito. Errado).
Parte do equívoco generalizado,
é que isto do feminismo é só para de mulheres de esquerda e mulheres
politizadas. Mentira. Eu sou a prova dessa mesma mentira. Vamos então refletir
um pouco. 52 % da população mundial é constituída por mulheres, no entanto, os
lugares de topo são ocupados em grande maioria por homens, ou como muito bem
disse a nigeriana Wangari Maathai, vencedora do prémio Nobel da Paz ‘quanto
mais perto do topo chegamos, menos mulheres encontramos’. Na maioria dos países
do mundo, para o mesmo tipo de trabalho, os homens ganham mais. Ou seja, só
ganham mais porque são homens. Repito, para o mesmo tipo de trabalho se for
mulher, ganha menos. São as mulheres que mais sofrem e morrem às mãos dos
homens. São as mulheres que perdem empregos quando engravidam. Não venham com
tretas que a questão de género é uma não-questão. Sabem bem que não são tretas
e os factos estão aí para prová-lo.
Há tempos fui fazer uma
entrevista a uma mulher que lidera uma grande empresa e de forte componente
masculina. Dizia-me: ‘se sorrio, sou uma
tonta, se sou dura, sou mal fodida. Se é um homem, se sorri é um tipo simpático
mas se é duro ele é assim, mas é um bom profissional’. É isto. É isto que temos
e, pior, as mulheres são, muitas vezes, as mais cruéis para com outras
mulheres.
Tenho uma filha. Tenho uma
Maria que me questionava, do alto dos seus 5 anos porque não havia uma rainha
maga e sim três reis magos. Sorri. Sei que ela, na sua inocência, nasceu a
desejar ter um mundo equilibrado de soluções, de cuidados e as mesmas
igualdades de oportunidades que os meninos que com ela partilham a creche. Não
pedimos benefícios, mas igualdade. Parece tão fácil e o entanto, tão difícil. Igualdade.
Por aquilo que me é dado a ver
nos meus quase 44 anos de vida, os melhores homens, os melhores pais, os
melhores lideres, os melhores companheiros, os melhores amigos, os melhores
irmãos são os feministas. Estou rodeada deles, até porque aqueles que se sentem
intimidados pelas mulheres, bem, esses não me interessam.
Texto maravilhoso, obrigada! Tenho duas filhas e quero que elas cresçam a saber que merecem e tem direito a tudo o que os irmãos nem sequer questionam. Já deve conhecer mas deixo aqui o link para a palestra We should all be feminists da Nigeriana Chimamanda Ngozi Adichiehttps://www.youtube.com/watch?v=hg3umXU_qWc
ResponderEliminarJá conheço e tenho o livro que nasceu dessa conferência. E fico feliz por ter gostado e se ter revisto. se formos muitas, a luta custa menos. beijinhos
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