Ao lado do meu computador está a
minha chávena com café. Na torradeira uma torrada a fazer-se e o barulho da
máquina da louça diz-me que limpa os restos do jantar de ontem. Aos poucos esta
casa parece uma casa, a minha casa. Quero enchê-la de vivências já que 11 anos
ficaram lá, no outro espaço, que já não me pertence. Nunca pensei que fosse tão
dolorosa esta mudança física dos lugares. Mas os lugares também nos pertencem e
nós pertencemos aos lugares. E quando alguém se impõe, há outro alguém que tem
de largar, ir, despido, para um outro sítio que demora a torná-lo seu. Sinto-me
tão vazia, que por vezes pareço que faço eco por dentro.
Escrevo neste computador na mesa
da sala. O sol ainda não bate aqui e sei que se fosse na outra sala o sol já há
muito que se fazia sentir. Ontem a minha amiga X veio jantar comigo. Comigo e
com a minha filha. Ficamos até tarde a deitar conversa fora. Falar dos amores. Do
que ficou. Do que planeamos e não deu certo. Do futuro. E é aqui que empanco. Não
acredito no futuro. Desejo paz e serenidade mas foi-me roubada a capacidade de
acreditar no futuro, logo eu que o açambarcava com as pernas. Não acredito. E é
neste não acreditar que está a minha maior perda. Pareço que funciono em modo
automático. Faço tudo de certa forma mecanizada. E quando penso no que faria se
pudesse, o que me surge é dormir. Mas nem isso consigo fazer. Acordo sobressaltada
de noite. Olho para o espaço. Procuro as horas refletidas no teto. Lembro-me
que neste quarto não tenho esse relógio. E fico assim, sossegada até adormecer
e a imaginar que horas serão. Às vezes, vejam o ridículo da situação, tento
ouvir as horas que o sino na aldeia dos meus pais dá de quarto em quarto de
hora.
Vou fazer mais um café. fazer a
mala que hoje vou para o Algarve dar formação. Volto sexta, mais cansada do que
estou. Comigo a dar eco por dentro e sei que quando meter a chave na porta
desta casa, que voltarei a não a sentir como minha. Mas um dia…
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