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quinta-feira, 5 de janeiro de 2017

dia 5 de 2017


«dona, é nesta televisão que qué a boxi?», sim, disse ao moço que instalou os mil canais infantis para a miúda e os filmes para mim. Sei que tenho de comprar uma televisão decente. Mas empurro com a barriga essa necessidade e faço de conta que aquele quadrado é o dobro (triplo) do que realmente é. De cada vez que a miúda me pergunta quando é que compro uma televisão que ela consiga ver em condições, eu penso que prefiro uma viagem. Falta-me a cura para o meu mal. Falta-me Florença. Queria lá regressar, curar-me e fortalecer-me. Já lá fui três vezes. Em nenhuma outra cidade me sinto tão plena e sólida como quando passeio nas margens do rio Arno, ou quando me sento numa esplanada a ver o mundo passar na companhia de um verdadeiro cappuccino. Tudo ali me encanta e enternece. E sou eu, numa plenitude que raramente encontro neste dia-a-dia que carcome e corrói. Quando cerro os olhos e ouço o italiano vulgar de boca em boca, soa-me à mais bela melodia… e até os traços de Botticelli, que pouco me dizem, parecem fluir para dentro do meu cérebro. Televisão ou Florença? Ando nesta luta e temo que a viagem ganhe terreno. Sonhei que estava numa esplanada, com uma manta nas pernas, um copo de chianti  na mesa e eu só, só a pensar no que ficou e no que, de tudo o que foi o que é que quero levar para o futuro. Deixar o que tenho de deixar. Levar o que tenho de levar. É tão fácil enchermo-nos de necessidades inúteis. Carregamos fardos que não nos elevam. Preciso dessa reflexão. Minha filha prefere a televisão. Ela, certamente ganhará. Mas um dia regressarei a Florença. Não será este ano, mas voltarei.

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