«dona, é nesta televisão que
qué a boxi?», sim, disse ao moço que instalou os mil canais infantis para a miúda
e os filmes para mim. Sei que tenho de comprar uma televisão decente. Mas
empurro com a barriga essa necessidade e faço de conta que aquele quadrado é o
dobro (triplo) do que realmente é. De cada vez que a miúda me pergunta quando é
que compro uma televisão que ela consiga ver em condições, eu penso que prefiro
uma viagem. Falta-me a cura para o meu mal. Falta-me Florença. Queria lá
regressar, curar-me e fortalecer-me. Já lá fui três vezes. Em nenhuma outra
cidade me sinto tão plena e sólida como quando passeio nas margens do rio Arno,
ou quando me sento numa esplanada a ver o mundo passar na companhia de um
verdadeiro cappuccino. Tudo ali me encanta e enternece. E sou eu, numa
plenitude que raramente encontro neste dia-a-dia que carcome e corrói. Quando
cerro os olhos e ouço o italiano vulgar de boca em boca, soa-me à mais bela
melodia… e até os traços de Botticelli, que pouco me dizem, parecem fluir para
dentro do meu cérebro. Televisão ou Florença? Ando nesta luta e temo que a
viagem ganhe terreno. Sonhei que estava numa esplanada, com uma manta nas
pernas, um copo de chianti na mesa e eu
só, só a pensar no que ficou e no que, de tudo o que foi o que é que quero levar para
o futuro. Deixar o que tenho de deixar. Levar o que tenho de levar. É tão fácil
enchermo-nos de necessidades inúteis. Carregamos fardos que não nos elevam.
Preciso dessa reflexão. Minha filha prefere a televisão. Ela, certamente
ganhará. Mas um dia regressarei a Florença. Não será este ano, mas voltarei.
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