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sexta-feira, 17 de março de 2017

da arte... uma seca, não leiam.



 No corredor da casa dos meus pais há uns quadros com umas rosas. Não são especialmente bonitos. Não são especialmente feios. São rosas pintadas e com uma breve inscrição que, imaginem, nunca li. Não sei como ficaria aquele corredor sem aquelas rosas. Era a única coisa que havia na casa dos meus pais. Nunca houve, lá em casa, grande ligação com a arte. Na verdade nunca tive nenhuma. Meus pais viviam preocupados com outras coisas. Em Trás-os-Montes nos anos 70 e 80 era acima de tudo difícil a sobrevivência, quanto mais pensar-se na arte. Creio que já estaria em lisboa a primeira vez que fui a uma exposição, ou pelo menos a primeira vez que uma exposição me disse alguma coisa. Ainda era uma gaiata e entrei no Museu de Arte Antiga e aquilo falou-me aos berros. Entrou em mim escancarando todas as portas. Fascina-me a arte, certa arte, Não toda, apenas aquela com a qual tenho uma ligação. Aquela que me cutuca. Que Bule com os sentidos. Aquela que me aparece em sonhos. Que não deslarga.

Lembro bem a primeira vez que vi um quadro do Francisco Vidal e a promessa que me fiz de um dia tê-lo especado numa parede de minha casa. Ou daquela vez que vi uma litografia numa casa em Santos e olhando para o preço tive vontade de vender o meu carro para comprar aquela mulher desfigurada mas com saias aos corações que me olhava de uma montra.

Quando engravidei o meu obstetra tinha no seu consultório um quadro de Paula Rego. Era uma mulher desfigurada que me olhava sempre que me deitava e abria as pernas. Ele via como eu estava e eu não largava o olhar da monstra que de certa forma me dava colo. Era um momento estranho mas sinto saudades dela.

Acontece isto, deparar-me com determinada arte e quase querer casar e morrer de amor com ela.

Há coisa de meio ano botei os olhos, sei lá eu como, nuns pratos pintados de Rita Wainer, uma artista brasileira, e quis ter um na minha sala. Quis tanto. Quero tanto. Mas ela é brasuca e eu sou portuga e funcionária publica. Não é só um oceano que nos separa é também a minha carteira.

Não sei se é por viver a fase de vida que estou a viver mas de quando em vez vou ao seu site ver o que ela pinta, coloco a imagem grande, imagino na minha sala e descanso olhando para aquelas mulheres de cabelos negros com frases que me dizem algo, muito, tudo.

Aguardo que esta vontade passe. Ou talvez não.

Encontro na arte muitas das respostas que procuro diariamente.








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