No corredor da casa dos meus
pais há uns quadros com umas rosas. Não são especialmente bonitos. Não são
especialmente feios. São rosas pintadas e com uma breve inscrição que,
imaginem, nunca li. Não sei como ficaria aquele corredor sem aquelas rosas. Era
a única coisa que havia na casa dos meus pais. Nunca houve, lá em casa, grande
ligação com a arte. Na verdade nunca tive nenhuma. Meus pais viviam preocupados
com outras coisas. Em Trás-os-Montes nos anos 70 e 80 era acima de tudo difícil
a sobrevivência, quanto mais pensar-se na arte. Creio que já estaria em lisboa
a primeira vez que fui a uma exposição, ou pelo menos a primeira vez que uma
exposição me disse alguma coisa. Ainda era uma gaiata e entrei no Museu de Arte
Antiga e aquilo falou-me aos berros. Entrou em mim escancarando todas as
portas. Fascina-me a arte, certa arte, Não toda, apenas aquela com a qual tenho
uma ligação. Aquela que me cutuca. Que Bule com os sentidos. Aquela que me aparece
em sonhos. Que não deslarga.
Lembro bem a primeira vez que
vi um quadro do Francisco Vidal e a promessa que me fiz de um dia tê-lo especado
numa parede de minha casa. Ou daquela vez que vi uma litografia numa casa em
Santos e olhando para o preço tive vontade de vender o meu carro para comprar aquela
mulher desfigurada mas com saias aos corações que me olhava de uma montra.
Quando engravidei o meu obstetra
tinha no seu consultório um quadro de Paula Rego. Era uma mulher desfigurada
que me olhava sempre que me deitava e abria as pernas. Ele via como eu estava e
eu não largava o olhar da monstra que de certa forma me dava colo. Era um
momento estranho mas sinto saudades dela.
Acontece isto, deparar-me com
determinada arte e quase querer casar e morrer de amor com ela.
Há coisa de meio ano botei os
olhos, sei lá eu como, nuns pratos pintados de Rita Wainer, uma artista
brasileira, e quis ter um na minha sala. Quis tanto. Quero tanto. Mas ela é
brasuca e eu sou portuga e funcionária publica. Não é só um oceano que nos
separa é também a minha carteira.
Não sei se é por viver a fase
de vida que estou a viver mas de quando em vez vou ao seu site ver o que ela
pinta, coloco a imagem grande, imagino na minha sala e descanso olhando para
aquelas mulheres de cabelos negros com frases que me dizem algo, muito, tudo.
Aguardo que esta vontade passe.
Ou talvez não.
Encontro na arte muitas das
respostas que procuro diariamente.
Sem comentários:
Enviar um comentário