O meu pai nunca foi de falar muito. E eu sempre lhe tentei chegar. Sempre. Quando era miúda, deitávamo-nos no terraço nas quentes noites de verão a olhar o céu. Só falávamos quando um de nós via uma estrela cadente. Só queria ver as estrelas para o ouvir. Havia noites em que nem uma aparecia. Ontem ele estava a comer uma maçã no beiral das escadas que dão para a cozinha. Sentei-me ao seu lado. Sem saber o que dizer, disse:
- esta macieira está cheia de flores. Vai dar muitas maçãs.
E ele pergunta:
- esta quê?
Foi a ânsia de Meter conversa que me fez escorregar na ignorância. Olhei melhor para a árvore. Olhei para as folhas. Remendei:
- enganei-me, queria dizer esta laranjeira.
Já não respondeu. Semi sorriu. Afinal a urbe e a cidade ainda não engoliu a filha. Ainda consigo descortinar as árvores de fruto. Menos mal. Sim, ainda sou uma miúda da aldeia que se atreve a viver na cidade.
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