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quinta-feira, 10 de maio de 2018

Paris


Já tinha ido a Paris há uns 20 anos. Gostei mas não fascinei. A estadia foi curta e retenho mais a animação que levava no corpo do que aquilo que a cidade me fez sentir. Olhando para trás, é como se estivesse numa outra cidade.

Agora voltei. Voltei com uma amiga, a minha filha e a filha desta. A ideia era irmos com as miúdas à eurodisney e fomos mas sobre isso falo numa outra altura), mas quisemos aproveitar e dar uma volta pela cidade. Não sei se foi de tudo o que já vivi. Não sei se foi da fase em que estou. Não sei se os astros estavam alinhados ou se a lua estava particularmente amorosa, só sei que a cidade entrou em mim como um leve nevoeiro e , cá dentro, fez-se denso. Calei perante as ruas que se deparavam à minha frente. Compramos um bilhete para andarmos num daqueles autocarros sem teto. ‘vamos ficar com uma ideia da cidade’, justificamos. Meti os fones nos ouvidos e coloquei em modo francês. Não, nada sei de francês, mas a sonoridade, a música de Piaf por detrás, fizeram-me tudo entender sem, no entanto, nada ter percebido. O Sena serpenteia sussurrando qualquer coisa de perfeitamente audível. É um convite a mergulhar. É um convide a olha-lo e, ao fazê-lo, passam pela cabeça a memória de amores idos. É como que uma catarse. As ruas cheias de esplanadas no mais direto convite ao ócio, à volúpia, ao deleite… há muito vinho em cima das mesas, quase tanto como cerveja neste nosso país. Só isso me deu logo uma vontade imensa de me mudar para lá umas temporadas. Depois, sei lá, é o ar, percebem, a atmosfera, é aquilo que não se conta mas que se sente que faz daquela cidade a cidade que quero, antes de todas outras, voltar e conhecer.
Acredito, no entanto, que também pode ser uma cidade-filho-da-puta, se não estivermos fortes, consistentes. Uma dor de amor em Paris dói mais ainda. 

Pensei muito no impacto que ela me causou. Parece-me que para se entender Paris temos de já ter amado, vivido, desamado, sofrido, caído, levantado, esmorecido, arrebitado, fodido… talvez por isso a cidade nada me tenha dito aos 20 anos.  

1 comentário:

  1. Chapeau....pelo menos isto creio que dá para entenderes....
    JMC.

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