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segunda-feira, 28 de maio de 2018

Sobre o Arroz doce

Quando peço arroz doce num qualquer restaurante, busco, indelevelmente, o arroz doce da minha mãe. Lá em casa ela raramente o fazia porque o meu irmão não gostava e ao meu pai era-lhe indiferente. Por isso, quando ela o fazia eu sabia que o fazia por mim. Há pouca coisa que me traz o colo e mimo da minha mãe como o arroz doce faz. Nunca expliquei isto a quem almoça comigo diariamente mas todos sabem que esta é a sobremesa que, existindo, peço sempre. Hoje, estava a trabalhar e a Sónia liga-me e pergunta se posso ir ter com ela à rua. Fui e ela tinha num saco uma taça de arroz doce que a mãe dela tinha feito ontem e que ela, lembrando-se de mim, quis oferecer-me. Não fui capaz de demonstrar o quanto o seu gesto me tocou. Uma atitude que me remeteu para o meu Trás-os-Montes, a minha aldeia, a cozinha da minha mãe onde a mesa corrida se enche de taças e mais taças a arrefecer e a mãe, com o seu jeito tão único, faz rios e rios de canela em cada uma. O cheiro ocupa todo o espaço e ela diz-me: filha, come um enquanto está quente que assim é que sabe bem. Tive vontade de chorar. Abracei a Sonia. Agradeci-lhe atabalhoadamente como o fazemos quando não há maneira de explicar o sentimento. E como uma miúda pequena, esperei chegar ao meu sofá, no silêncio da minha casa, para comer o arroz doce da mãe da Sonia que é igual ao da minha mãe. Porque há nas mães algo que só elas são capazes de colocar naquilo que fazem. 

1 comentário:

  1. Um gesto bonito, esse da sua amiga. Também a minha mãe é transmontana e também o arroz doce dela é verdadeiramente especial...<3

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