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quarta-feira, 23 de março de 2011

Engarrafamento do vinho

No próximo sábado meu pai vai engarrafar o vinho branco que fez. O tinto ficará para outras núpcias. Junta sempre o aniversário do meu irmão e transforma-se num dia de festa, com os amigos do meu mano a ajudar em conjunto com a malta mais entradote. Há qualquer coisa de mágico nestes dias. As mulheres estão na cozinha, não porque seja o lugar delas, mas porque é ali que trocam ideias, experiências, receitas com a minha mãe a fazer a melhor tripalhada de que tenho memória. E fá-la em potes de ferro em cima do lume. Esteja frio ou sol. Costuma estar sol. Tudo começa pelas sete da manhã. Juntam-se para um pão quente a sair do forno com presunto. Começam logo a acompanhar com o branquinho. Primeiro isso incomodava-me, mas meu irmão explicou-me que leite ali no meio só estragava a festa e provavelmente os intestinos. Que seja! Depois é uma algazarra. Engarrafam e bebem. Enchem a garrafa e bebem. Colocam a rolha e bebem. Colocam no vasilhame e bebem. É tudo de seguida sem parar. Sabe-se que parando já não se consegue levar a bom porto a tarefa. Só se pára lá para as 15h, para um almoço já com a malta bem bebida… os mais novos que os mais velhos vão tendo a sabedoria de controlarem todo o processo numa sobriedade que impõe respeito. E juntamo-nos todos ao almoço. Numa mesa gigante improvisada. Muitos risos. Muita alegria. Muito amor. Os miúdos, que já vão havendo, vão ficando por lá: eles com os homens, elas com as mulheres. Vai-se passando o saber.
Anseio por sábado. Há naqueles dias uma satisfação que não encontro no restante ano. Por fim, meu pai dá vinho a todos. Minha mãe faz uma cesta com iguarias e lá vai a malta, por volta das 23h para suas casas. Elas levam os carros. Eles riem. Nós ficamos em casa. Uma casa desarrumada nas tralhas, arrumada no amor.

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