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segunda-feira, 14 de março de 2011

Sedentários, obesos e fumadores – os novos marginais?


De quando em vez surgem uns livros no mercado que para além de surtir como que um murro no estômago, fazem-no com elegância e mestria. É o caso do novo livro de José Manuel Constantino que, reflectindo sobre a sociedade da limpeza, dos hábitos de consumo, a busca da eterna juventude e a ‘para-sempre’ saúde resolve num dia, pasme-se porque aconteceu depois de acordar de uma anestesia, escrever um livro. Começa assim, na cabeça semi-adormecida num pós-operatório, e o resultado é, dizendo pouco, fantástico. Para não acharem que escrevo do que não sei, fiquem com um pouco, um poucochinho deste livro:
«É que já não basta ser saudável. É preciso não deixar que se fique doente. E o consumo com consultas, análises, diagnósticos, medicamentos, tratamentos, spas, massagens, clinicas e termas dispara num processo infindável que envolve o que se come, o que se bebe, o que se coloca na pele, as horas a que está na praia, a maneira como nos sentamos, a distância do televisor, os cuidados com as práticas sexuais, a poluição, o fumo e uma infindável lista de cuidados a ter com o corpo e com a saúde. Viver passa a ser uma fonte de problemas. Viver passa a ser um risco anunciado».
O prefácio ficou a cargo de Jorge Bento, também ele um homem que gosta de reflectir sobre todo este universo que nos envolve. É um homem reflectivo, adjectivo que não cabe no dicionário mas que um dia um ex-professor meu criou para definir as pessoas que reflectem sobre algo. Voltemos atrás, Jorge Bento fez o prefácio e também ele merece destaque neste meu bloguezinho. E escreve:
«vem muito a propósito recordar que os taliban, quando tomaram Cabul em 1996, nomearam um iluminado e zeloso vice-ministro para a Promoção da Virtude e a Prevenção do Vício. A insigne e divinamente inspirada autoridade punia publicamente os desvios com lapidações, enforcamentos e decapitações. Igualmente não é de olvidar a célebre chamada de atenção de Martinho Lutero (1483-1546): ‘ a medicina cria pessoas doentes, a matemática pessoas tristes e a teologia pecadores’. Agora tudo parece fundir-se no mesmo resultado».
E entre uma frase e outra deste texto, fui lendo o livro de que vos falo, parei com um sorriso nesta frase: «Quer mudar de sexo? Saiba onde, consultado a net. Não está contente com o tamanho do seu pénis? Várias técnicas ajudam a aumentá-lo. Retardar o orgasmo? Também é possível. Pretende um rejuvenescimento  vulval , a redução do diâmetro vaginal ou o aumento do ponto ‘G’? Quer aumentar o tamanho dos seios? (…) tudo está ao seu alcance para o fazer feliz».
E será que faz? Esta busca do corpo perfeito transformou-nos em seres mais felizes? A ASAE transformou a nossa sociedade numa sociedade mais saudável? Qual ou quais os vícios que podemos ter? Quais os que nos exclui?
Um livro que se mais não fizer, obriga-nos a reflectir sobre uma corrida que incrementamos connosco mesmos, em busca de um ‘nós’ que pode nunca existir e se existir pode não ser mais feliz, completo, satisfeito e eficaz que este ‘nos’ que já existe.
Eu como sou obediente foquei-me no exercício físico e gostei quando me apercebi que afinal, em certos casos, como o meu, ginasticar o corpo não traz benefícios.  
Vão a www.deplano.pt e saibam como podem adquirir este imprescindível livro.

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