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quarta-feira, 28 de setembro de 2011

desastre publico

É sabido que as autarquias (quase todas) gastam fortunas em arte pública. E se há arte pública em que o propósito é reter o nosso passo apressado, a nossa voracidade do dia-a-dia, obrigar-nos a uma contemplação, e que consegue; também há arte pública que a única coisa que, estou certa, fará pelo espaço onde se insere e pelos cidadãos que a vêm, que é viver na penumbra de um reconhecimento que nunca chega. Em quase todas as terrinhas há aqueles tubos ao alto, ou ao baixo, os ferros torcidos sem se perceber o que é até que nos damos ao trabalho de ler a placa (quando têm) e nem assim se percebe o que a bota tem a ver com a perdigota. Enfim, a arte pública em si é uma terra onde artistas ganham balúrdios para exporem as suas obras e muitas vezes, não passa disso mesmo: uma relação entre o artista e a câmara. Nada mais. Não há na obra nada que nos faça parar e contemplar. E acho que deveria haver. Gosto de algo que, a ser pago com o meu dinheiro, me faça reflectir, sorrir, sentir a beleza da obra em si. Lembro-me de há uns anos em plena Lisboa serem colocadas estrategicamente várias vacas de várias cores. E lembro-me de parar e sorrir e observar. Não era a única. Éramos vários que parávamos a observávamos. Fosse o que fôssemos fazer aquelas vacas faziam com que perdêssemos minutos a olha-las. Por muito tristes e aborrecidas que estávamos, não havia maneira de não sorrirmos. Isso foi um excelente trabalho no âmbito da arte pública. Deu-nos um pouco de alegria. Mas disso há pouco. Há quase nada. Não existe. Às vezes vou de carro e paro por um motivo qualquer e vejo uma obra ao meu lado, obra que estaria lá há anos e que nunca reparei. Se sou distraída? Não, apenas me perco no que é belo. De resto, o tempo é precioso. Muito precioso. E não venham com merdas que arte é arte, mesmo que se trate de uma pedra de xisto ao alto onde na placa informa: A Criação do Mundo. Uma pedra de xisto ao alto é uma pedra de xisto ao alto. E se é arte, sê-lo-á apenas para meia dúzia de gente, entre eles o artista, a mulher do artista e o que encomenda a peça, a mulher deste, as amigas e amigos, a mãe do artista e o pai e os filhos quando estes não são dotados de gosto próprio.  

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