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quinta-feira, 19 de julho de 2012

vamos lá fechar o meu dia


Hoje estou, de uma forma demolidora, arrasada. Tive um dia tão intenso, cheio, trabalhoso que a única réstia de energia com que saí do trabalho gastei-a com a minha filha. Agora estou semi-desmaiada, no sofá, e tento refletir sobre o dia. Esta coisa de refletir sobre o dia ficou-me de umas férias de verão em que passei com uma tia pouco simpática. Aquilo foi castigo dos meus pais por um ano em que namorei demais e estudei de menos. Toca a ir para casa da tia Ana. E a tia Ana tinha uma característica – na verdade tinha várias, mas esta era aquela que mais me marcou – que todos os dias, depois do jantar, em vez de nos mandar arrumar a cozinha mandava-nos refletir no dia. Pode parecer-vos que é coisa comezinha, mas depois tínhamos de explicar no que refletimos e porquê essa reflexão. Ou seja, colocou-nos um verão inteiro a mentir. Ai e tal refleti que jamais devo chamar nomes ao meu irmão. Ou, hoje achei importante refletir sobre os atropelamentos. E ela validava a nossa reflexão. A dada altura, algures nas férias, começou a ser mais fácil, para mim, refletir mesmo a sério do que inventar. Depois acabou por me viciar. Comecei a sentir necessidade de o fazer. Foi um vício que se entranhou. Depois passei a ser apelidada como aquela que reflete demais. Pois, mas a verdade é que me ajuda. Ao fim de cada dia gosto de me deitar no sofá e rever o dia, o que fiz, o que gostaria de ter feito. O que senti. Porque senti. Depois estas reflexões não dão em nada. Não servem para nada. Absolutamente nada. Mas reflito. E ao fazê-lo como que coloco um ponto final no dia. E ao colocar um ponto final no dia, fecho-o. Arrumo-o. E só podemos arrumar aquilo que se viveu. Tenho dias que não o faço. Que adormeço. Que me animo. Que leio. Que converso e acabo por não o fechar. Não é grave. Nada aqui é grave. É apenas um tique. Um leve tique que me ficou de umas férias. Só isso. Nada de darmos importância ao que não tem. Eis a minha reflexão de hoje. Não dar importância ao que não tem. Não dar importância ao que não tem… ponto final.

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