Páginas

terça-feira, 28 de agosto de 2012

Dos preconceitos e das ideias fixas que nos toldam a visão


Tenho um amigo que diz que não gosta de ver uma mulher a fumar, bem como não gosta de ver uma mulher a beber uma cerveja. Acha feio. Nada feminino. Não sei o que ele pensa quando vê uma mulher a fumar e a beber uma cerveja. Um horror aquela visão, certamente! E ele até é um tipo dos mais impecáveis que conheço e só por isso, apenas por isso, não o desanquei quando ele disse tal barbaridade. E dei por mim a relembrar-me de mulheres que são minhas amigas, femininas até à ponta do cabelo e que fumam e que têm um souplesse  na atitude, no jeito de estar, na forma de olhar que aquele cigarro só podia ganhar ao estar entre aqueles dedos. E a boca a beijar a garrafa ou o copo em nada diminui a sua sensualidade. E conheço vários exemplos. E ri-me com ele. Ri-me porque imaginei-lhe a cara de horror se me visse a fumar um charuto. Adivinhei-lhe o desgosto no olhar. E voltei a rir. Ainda pensei em contar-lhe do dia em que fui jantar (já há bons anos) e nesse restaurante, a dada altura, um tipo com pinta (muita) deixa uma rapariga sozinha na mesa. Não percebi se tinham discutido, mas percebi que aquilo que tinham acabara naquele momento. No prato dele ficou um peixe ainda por comer, um vinho por beber e a rapariga sossegada e sentada a olhar para a porta de saída. A dada altura, ela que nem era bonita nem feia, apenas bem ‘arrumadinha’ sacou de um charuto, acendeu-o e ficou ali, em longas golfadas, a fumá-lo com tempo. A descontrair. Provavelmente, a pensar na vida. No ontem e no amanhã. Continuou a beber e deixou a  comida. E o que retenho daquela noite foi o jeito, a forma como ela agarrava no charuto e o fumava. Nem depressa nem devagar. Fumava-o e aquilo pareceu-me uma das coisas mais excitantes daquela noite. E achei que era linda. Não consegui perceber se ela estava triste. Tentava olhar disfarçadamente. Recusei-me sair enquanto ela lá estava. E foi depois, muito depois, que ela se levantou e passou por mim, com as mãos caídas e as unhas de um vermelho vivo e saiu porta fora. Nunca mais a vi e nunca saiu da minha cabeça aquela imagem. Gostava de explicar a esse meu amigo que os gestos não podem mostrar uma gente bonita ou feia. Os gostos não podem denunciar assim tanto a feminilidade de alguém. É todo um conjunto. É toda uma fórmula que leva ao sucesso ou insucesso de alguém. Que conheço-as puras, sem álcool no sangue, sem fumo nos pulmões e uma desgraça de mulheres. Sem aquele clique. Conheço-as e queria dizer-lhe isso, mas estou em crer que a vida lhe irá ensinar tal. E eu estarei cá para me rir… rir com ele  e não dele, claro, que isso, aos amigos, não se faz.

Sem comentários:

Enviar um comentário