Páginas

segunda-feira, 27 de agosto de 2012

O que de mim é do século passado?


Hoje, ao passar por um blogue de culinária, o tipo dava a conhecer uma tarte de amêndoa com um creme de mirtilos que foi deixada pela sua avó. Dizia o moço, que a sua relação com a cozinha tinha uma origem: os fins de semana passados entre as panelas da avó. Dizia que tinha sido com ela que aprendeu a fazer coisas tão banais como manteiga e compotas. Eu fiquei a pensar que pelo facto de nunca ter conhecido os meus avós, nem de um lado nem do outro, não podia ter esta relação com o passado. Não faço ideia se as minhas avós cozinhavam e se o fazendo o faziam bem. Se havia alguma receita que era apenas delas, ou não;  se tinham truques para a maionese não talhar, por exemplo, ou se a pescada da avó Joaquina era melhor que a da avó Maria. Não sei, não sei, sequer, se havia nelas afeto suficiente para me fazerem querer estar com elas, não faço ideia se aquilo que a minha mãe é na cozinha deve à sua mãe e aquilo que o meu pai não é, o deve à minha avó paterna. E o facto de não saber deixa-me a pensar que se calhar (e agora crio um passado como diz o Julian Barnes no O Sentido do Fim) aquilo que gosto na cozinha, a paz que encontro em mim de cada vez que faço um bolo, ou a busca incessante que tenho por bolachas, talvez tenha herdado de uma delas. Como quando a minha filha está a ver o Panda e os Caricas e trinca o lábio num gesto que a sua bisavó paterna fazia, sendo que uma não conheceu a outra, e o ADN trouxe, até aos seus tiques, pedaços de um antepassado. O que de mim é das minhas avós? Não sei. Sei que a minha bisavó paterna era professora primária, num tempo em que não era suposto que fosse e imagino que deveria ter um livro de receitas todo escrito com aquela letra típica das professoras primárias, cheias de arabescos e românticas e limpo, divinalmente limpo. Não sei, isto é invenção minha. Mas sabe-me bem pensar assim. Ou se calhar, mais do que o gosto pela cozinha, herdei a independência e alguma frieza nos afetos. Não sei… prefiro a primeira hipótese.

4 comentários:

  1. . espero que não meu anjo, tomara que a frieza nos afetos seja apenas um pensamento passageiro e que vc tenha herdado alegria, amor, carinho e se não os herdou, que consiga transmiti-lo para que no futuro alguém herde de vc.
    . beijinhos mil. fique com DEUS. leila diniz.
    . ps: sou brasileira.

    ResponderEliminar
  2. A Leila é uma querida...


    JMC.

    ResponderEliminar