Foi numa festa de aniversário em minha casa que um amigo se
virou para mim e disse: estou aqui a pensar que só uma pessoa como tu é que
poderia colocar uma serigrafia assim, de lado. Nada de muito direitinho e olha
que fica muito bem’, dito isto, eu olho para o quadro em causa e verifico que
por dentro do passe partout a serigrafia tinha descaído de um lado e estava
tombada, mostrando a imagem de uma mulher nua a cair. Aquilo deve ter
acontecido sem que eu desse conta. Não tinha sido propositado. Nada disse e
durante dias olhava e pensava se deveria ou não arranjar. Quando decidi não
arranjar, assumir a queda da moça, sentir que, por vezes, é bom desarrumar, o
meu marido chega a casa e resolve arranjar. Nada lhe disse, mas quando o vi direito
como deveria de estar, não gostei. Era como se não me pertencesse. Era como se uma
mulher com as ideias, por vezes tão desarrumadas, não pudesse ter um quadro tão
direito. Agora olho-o de lado. Obrigo-o a deitar-se na minha cabeça. É como se necessitasse
que os meus objetos dancem comigo a dança do desassossego tão típica de mim.
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