Acho que a esta altura do campeonato devo sentir-me
imensamente feliz por ter trabalho. Esta minha alegria não se prende tanto com
a crise em que vivemos (embora tenha consciência da grande sorte que tenho),
mas pelo facto de perceber que as entrevistas de emprego, nos dias que correm,
serem completamente despropositadas e loucas. Há malta que é muito boa nas
entrevistas de emprego, mas que depois são uma verdadeira nódoa no dia-a-dia.
Tenho bem presente um caso que se passou no estaminé onde trabalho; e haverá,
certamente, pessoas que bloqueiam, que se atrapalham numa entrevista de emprego
e que depois são expeditos, frescos, inteligentes a efetuar o seu trabalho. E
sei que as entrevistas de emprego não são, muitas das vezes, bem-feitas, bem
preparadas e etc e tal. Sei disso tudo, mas entrar-se na insanidade daquilo que
se passa nos EUA é que me parece demais. Ora bem que por lá, conscientes que as
tradicionais entrevistas de emprego não desaguavam nos melhores profissionais
resolveram reinventar o conceito de pergunta-resposta. Eis alguns exemplos:
Você está num corredor
de pedra com oito metros de comprimento por oito de largura. Aparece o príncipe
das trevas. O que é que você faz?
Assim, à primeira vista, acho que respondia que lhe dava um
beijo na boca a ver se se transformava num lindo príncipe. Será que a minha
resposta era valida? Qual seria a resposta que gostariam de ouvir?
Outra:
Quantos lixeiros há na Califórnia?
Pois bem, como sou má a números, creio que diria que se a Califórnia
fosse limpinha que tinha os suficientes.
Mais uma para aquecer?
Quantas bolas de golfe
cabem num estádio?
Pois bem, que não faço a mínima ideia e duvido que haja quem
saiba a resposta e por isso mandava um numero à sorte.
Creio que bebia antes de uma entrevista destas. Bebia e
fumava um charutinho e entrava com aquela posse de ‘vamos lá a isso, que comigo
é canja’. Assim, só para dar a ideia de ser uma moça descontraída embora por
dentro estivesse à beira de desmoronar. Mas na verdade a minha entrevista, que
já foi há largos anos, teve uma pergunta que não fugiu muito ao espirito destas.
A dada altura um dos elementos do júri perguntou-me:
Qual o sistema de saúde na antiga URSS?
Fiquei a olhar para ele e respondi-lhe que quando lá estive
tive a sorte de não ficar doente.
Entrei. Creio que estou apta para esta insanidade que, de uma
maneira ou outra grassa o mundo.
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