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quinta-feira, 16 de janeiro de 2014

Em busca do nosso eu


Isto de ter os pais longe faz com que tenha de ficar em casa quando a minha filha fica doente. Não há muito a fazer nem a dizer. E como tenho de ficar em casa com ela tento arranjar maneiras de passar melhor o tempo sem pensar no trabalho que deixei à espera. Como a filha dorme muito e mais ainda quando está doente, vou fazer chutney de pimentos. Sim, é isso. Descobri aos 40 uma paixão que cresceu silenciosamente dentro de mim: a paixão pela cozinha. Sempre gostei, mas agora adoro, cura-me, dá-me asas estar na minha cozinha e fazer bolos, ou compotas ou a navegar sem terra à vista por entre os meus adorados livros de culinária. Quando a filha está acordada, faço o mesmo, porque ela adora a cozinha. Gosta de ficar sentada no balcão a (des) ajudar-me. Gosta de partir ovos. Umas vezes acerta na tigela muitas outras vezes não. Gosta de me ver a cortar a cebola e chora. E diz que elas são más. Mas nunca me pede para sair da cozinha. Ficamos ali, as duas na companhia do nosso peixe que uma semana se chama pedro, noutra João e agora é artur. Esquizofrénico, o gajo, mas a minha filha teima em mudar-lhe a identidade semana sim, semana sim. Sim, que o nosso nome é a nossa identidade primária. Eu que detesto o meu nome, sei que na verdade não poderia ter outro. Não saberia quem era. Muitas vezes ainda não sei quem sou. É uma descoberta. Isto de viver mais não é do que descobrirmo-nos a nós próprios. Há quem pense que estamos cá para descobrir os outros. Desenganem-se. É a nós que cabe descobrir desde a primeira golfada de vida.

4 comentários:

  1. Também dei largas agora a essa paixão antiga, a cozinha... ADORO e sinto-me num laboratório (quase) mágico!
    Gosto muito de lê-la....
    Beijinhos!

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    1. Paula, obrigada. A cozinha é uma boa terapia para os dias que correm. Continue por cá. beijinhos

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  2. e sempre que quiseres trocar receitas ou sugestões de livros (que já não cabem nas prateleiras da cozinha, mas arranjo sempre maneira de encontrar um cantinho), é só dizeres. :)

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    1. olha que vou aproveitar. Também tenho muitos, qualquer coisa, diz que se eu tiver mando-te a receita. E livros nunca são demais, mesmo quando não há espaço para eles:)

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