Isto de ter os pais longe faz
com que tenha de ficar em casa quando a minha filha fica doente. Não há muito a
fazer nem a dizer. E como tenho de ficar em casa com ela tento arranjar
maneiras de passar melhor o tempo sem pensar no trabalho que deixei à espera.
Como a filha dorme muito e mais ainda quando está doente, vou fazer chutney de
pimentos. Sim, é isso. Descobri aos 40 uma paixão que cresceu silenciosamente dentro
de mim: a paixão pela cozinha. Sempre gostei, mas agora adoro, cura-me, dá-me
asas estar na minha cozinha e fazer bolos, ou compotas ou a navegar sem terra à
vista por entre os meus adorados livros de culinária. Quando a filha está
acordada, faço o mesmo, porque ela adora a cozinha. Gosta de ficar sentada no
balcão a (des) ajudar-me. Gosta de partir ovos. Umas vezes acerta na tigela
muitas outras vezes não. Gosta de me ver a cortar a cebola e chora. E diz que
elas são más. Mas nunca me pede para sair da cozinha. Ficamos ali, as duas na
companhia do nosso peixe que uma semana se chama pedro, noutra João e agora é
artur. Esquizofrénico, o gajo, mas a minha filha teima em mudar-lhe a
identidade semana sim, semana sim. Sim, que o nosso nome é a nossa identidade
primária. Eu que detesto o meu nome, sei que na verdade não poderia ter outro. Não
saberia quem era. Muitas vezes ainda não sei quem sou. É uma descoberta. Isto
de viver mais não é do que descobrirmo-nos a nós próprios. Há quem pense que
estamos cá para descobrir os outros. Desenganem-se. É a nós que cabe descobrir
desde a primeira golfada de vida.
Também dei largas agora a essa paixão antiga, a cozinha... ADORO e sinto-me num laboratório (quase) mágico!
ResponderEliminarGosto muito de lê-la....
Beijinhos!
Paula, obrigada. A cozinha é uma boa terapia para os dias que correm. Continue por cá. beijinhos
Eliminare sempre que quiseres trocar receitas ou sugestões de livros (que já não cabem nas prateleiras da cozinha, mas arranjo sempre maneira de encontrar um cantinho), é só dizeres. :)
ResponderEliminarolha que vou aproveitar. Também tenho muitos, qualquer coisa, diz que se eu tiver mando-te a receita. E livros nunca são demais, mesmo quando não há espaço para eles:)
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