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domingo, 9 de março de 2014

tentações

A Raquel Caldevilla, que tem este lindo blog, lançou um desafio: escrevermos (eu e mais três pessoas) sobre determinadas palavras, conceitos, ideias. Desta vez foi sobre 'tentações'. Levei dois dias a pensar o que queria escrever, e meia hora para o fazer. Porque não gosto de tentações, mas vivo metida nelas até ao pescoço. Fica aqui o que escrevi.



Tentações. Torci o nariz porque tenho a mania da estética das palavras. Não gosto desta. E confundo a estética da palavra com o seu significado. Estupidez, digo para mim mesma. E sou tentada (ora, aqui está ela) a mudar de ideias. Na verdade, acho que não gosto, não pela estética da coisa, mas porque me obriga a deparar-me ou a enfrentar um dos meus maiores defeitos: a tentação. Vivo tentada com o que não consigo comprar, com o que não consigo viver, como o que não consigo fazer, com o que não consigo ouvir, com o que não consigo ler, até com os filhos que não consigo ter. Esta sim, será a minha maior frustração que esta palavra me aponta. Tentação que possuo na alma mas que o corpo rejeita veemente. E aquilo que me tenta mas ao qual não chego, faz-me não gostar da estética da palavra Tentação. Perguntam: mas a tentação não te obriga a tentares conseguir? A anular a inercia? Não é a tentação que me faz isso, respondo, mas o sonho de algo. É o sonho que me faz ir mais longe. Que me obriga a levantar da cama todos os santos dias. É ao sonho que presto a minha vassalagem das coisas conquistadas e das coisas conseguidas. Permitam-me, 8não gosto da estética da palavra tentação e descubro que não gosto do seu significado em mim. Cai-me como o amarelo que nunca uso a não ser nos jarros que, este ano, resolveram florir no meu desprezado canteiro.

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