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terça-feira, 10 de junho de 2014

os meus pequenos dramas


Ela descia as escadas e sorriu para mim. Olhei bem para ela. Tem três anos e há coisas dela que já me esqueci. Há fotografias que mexem com a memória que sendo breve me aflige por me surgir longínqua. Gostava de me lembrar de tudo, mas enfrento o muito que já esqueci. Sei que tinha um mês e 3 dias quando riu pela primeira vez, no entanto não me lembro do riso. Também me esqueci do quinto dente. E de quando ela me acompanhava na sala, no berço, ao lado do sofá onde ambas descansávamos, com a mão dela na minha. E no meio deste esquecimento todo, destas partidas que a memória me prega, tenho medo de me esquecer de mais alguma coisa. Sei de cor o jeito que ela tinha de gatinhar, em alta velocidade, com a cabeça de lado, mas não me lembro concretamente dos primeiros passos. E hoje ela descia as escadas com o ar mais feliz do mundo e eu quis fixar aquela imagem. Vê-la descer enquanto olhava para mim com aqueles olhos de comer o mundo que ela tem. Pedi à memória para trabalhar convenientemente. Para fixar o que via. Para colocar um pin como se a minha cabeça fosse um Pinterest. Mas a cabeça tem armários obscuros, de onde nada sai e receio. Receio a memória. Quero fixa-la para sempre. Queria fixar todos os seus momentos. Já percebi que é impossível e que as fotografias, muitas vezes, em vez de trazerem pedaços de memória apenas agudizam a dor do esquecimento.

Ela descia as escadas e eu fixei-a. Fixei-a.










4 comentários:

  1. Vida efémera, momentos puros, reluzentes,
    sorrisos de criança, o cair dos primeiros dentes


    Ai... como o tempo passa...
    E a alma se lhe entrelaça,
    num misto de alegria e cor
    ...com saudade e alguma dor

    Não saber como acaba a história
    sim, isso nos enlouquece
    mas guardado está na memória
    e o coração, enfim aquece

    O amor é eterno, mas nem sempre isso conforta
    as passadas ávidas de parar o tempo
    que não pára

    e isso revolta.


    Que fique gravado, registado, tatuado a quente!
    Tudo passa, mas estarás presente
    mesmo quando
    estiveres


    ausente.





    Beijos, Frida.

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