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sexta-feira, 26 de setembro de 2014

do amor

Há muito tempo que aprendi que o amor não tem só uma face. Não é uma linha reta. Não é simples e muito menos linear. Creio que o meu tio A. contribuiu muito para este meu entendimento. Sempre que o vejo, vejo ao lado a minha tia. Envelheceram juntos e hoje o futuro, para eles, já é uma estrada curta e breve. Aturam-se com paciência. Dão as mãos e creio que já os vi a darem mais beijos na boca do que vi os meus pais. Ele vai-lhe fazendo as maiores declarações de amor e ela ri-se, sempre um riso tímido, numa mistura de gozo com desconcerto. As suas irmãs torcem o nariz. Não acreditam em nada daquilo. Sabem que ele teve inúmeras mulheres pela vida fora, e de forma paralela. Minha tia também sabe. Não é segredo. Ele nunca foi bom a esconder a excitação da novidade. Ela sabia que depois passava-lhe. E ele nunca deixou de ir para casa à noite, jantar com ela, dar-lhe a mão enquanto, juntos, viam a telenovela. Para ela bastava-lhe. De certa forma, nunca pensou em deixa-lo. Nem ele a ela.
Um dia, andava eu na faculdade, quando fui com ele tomar um café. Sabíamos – a família - que ele tinha uma outra pessoa. Nunca lhe perguntei nada mas ele disse-me: sabes, sobrinha, é difícil resistir a uma mulher que põe as pernas no pescoço de um homem.

Ri-me. Nada disse. O que poderia dizer? Mas imagino que a minha tia não ponha as pernas no pescoço dele. E imagino que ele não se incomode muito com isso. Mas sei que se amam. Se é um amor que eu gostava de viver, não é, mas nunca devemos ver a vida dos outros apenas pela nossa lupa. A vida é bem mais complexa e o amor, ah, o amor então nem se fala!

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