Há muito tempo que aprendi que
o amor não tem só uma face. Não é uma linha reta. Não é simples e muito menos
linear. Creio que o meu tio A. contribuiu muito para este meu entendimento. Sempre
que o vejo, vejo ao lado a minha tia. Envelheceram juntos e hoje o futuro, para
eles, já é uma estrada curta e breve. Aturam-se com paciência. Dão as mãos e
creio que já os vi a darem mais beijos na boca do que vi os meus pais. Ele
vai-lhe fazendo as maiores declarações de amor e ela ri-se, sempre um riso tímido,
numa mistura de gozo com desconcerto. As suas irmãs torcem o nariz. Não
acreditam em nada daquilo. Sabem que ele teve inúmeras mulheres pela vida fora,
e de forma paralela. Minha tia também sabe. Não é segredo. Ele nunca foi bom a
esconder a excitação da novidade. Ela sabia que depois passava-lhe. E ele nunca
deixou de ir para casa à noite, jantar com ela, dar-lhe a mão enquanto, juntos,
viam a telenovela. Para ela bastava-lhe. De certa forma, nunca pensou em
deixa-lo. Nem ele a ela.
Um dia, andava eu na faculdade,
quando fui com ele tomar um café. Sabíamos – a família - que ele tinha uma
outra pessoa. Nunca lhe perguntei nada mas ele disse-me: sabes, sobrinha, é difícil
resistir a uma mulher que põe as pernas no pescoço de um homem.
Ri-me. Nada disse. O que
poderia dizer? Mas imagino que a minha tia não ponha as pernas no pescoço dele.
E imagino que ele não se incomode muito com isso. Mas sei que se amam. Se é um
amor que eu gostava de viver, não é, mas nunca devemos ver a vida dos outros
apenas pela nossa lupa. A vida é bem mais complexa e o amor, ah, o amor então
nem se fala!
Tão, mas tão verdade.
ResponderEliminarbeijinhos
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