Páginas

segunda-feira, 27 de outubro de 2014

adeus sarda


A minha mãe tem sardas. Eu adoro as sardas da minha mãe. Por isso, quando apareceu uma no lábio, fiquei feliz. Nem questionei o seu aparecimento após quatro décadas de existência. Era uma linda sarda que eu adorava ver, e que reluzia, de tão preta, quando colocava um bálsamo em cima. Mas a dermatologista, onde fui por causa de um outro assunto, não gostou. Disse que tinha de tirar. Fui a uma segunda opinião, afinal não podia abrir mão da única sarda que Deus me oferecera depois de tanto as ansiar. O segundo (um médico de olhos azuis-gélidos, que parecia ter vindo da sibéria) ainda foi mais perentório que a primeira: já devia ter saído.

Hoje fui tirar a sarda. Na verdade pode não ser uma sarda e sim um mau sinal. Estou aqui, em casa, com a boca num estado miserável e finalmente penso que assim sim, assim consigo emagrecer, na medida em que nada consigo comer. Olho para o sítio onde tinha a sarda/sinal e vejo pontos. Tenho pena se se confirmar que era uma sarda; tenho receio se se confirmar ser um mau sinal. E rio-me da senhora que se cruzou comigo no supermercado e que me disse: um homem que a ponha nesse estado, não a merece. Coitada da senhora. Nem ela imagina que o único que um dia se lembrou de me levantar a mão, acabou com uma cabeça de cavalo, em mármore, no sobrolho e com três pontos… e sem mim.

2 comentários:

  1. Carla,
    O que importa é que corra tudo bem e vai correr afinal não à de ser uma simples sardinha que nos vai deixar em angústia, bem adorei a saída da tal senhora do super, significa que as mulheres estão cada vez mais alerta, com elas e com as outras, embora tristemente mais uma foi hoje morta pelo ex-companheiro em Leiria. Tenho sempre dúvidas com estes cobardolas, será que na 1ª vez que levantou a mão se ela lhe tivesse acertado com um objecto contundente ele não teria ido chorar para a barra da saia da mãe e nunca mais lhe passava pela cabeça ter tal bestialidade. Em relação a estes casos fico sempre boquiaberta quando sei que estes "animais" têm o desplante de dormir com a vítima durante longos e longos anos, será que nunca lhes passa pela cabeça que ela num acto de fúria, vai pé ante pé à cozinha ... regressa pé ante pé e zás ... acabou-se a besta. Agora vamos deixar a desgraceira e desejo-lhe uma boa viagem e divirta-se muito. Beijocas linda e seja feliz junto de seus amores.
    Júlia

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Olá Júlia, concordo consigo: a sociedade está mais atenta. Os crimes de violência doméstica não param de aumentar e é assustar. Na verdade, este é um problema complexo que não cabe explicar ou entender em meia dúzia de linhas. Quanto à viagem, muito obrigada. Estou certa que será muito boa. Beijinhos e obrigada uma vez mais.

      Eliminar