Há histórias que lemos e que
nos parecem levar nas asas absurdas da imaginação; levam-nos para sítios inexplorados.
Eu gosto dessas viagens, inseridas nas vidas únicas de algumas personagens que
vivem nas páginas de um livro. Depois há as histórias banais, de gente banal, mas
que estão tão bem escritas, tão bem relatadas, tão perfeitas que, não tendo
nada de original, são do melhor que se pode ler. Stoner, o livro de John
Williams cabe nesta última categoria. Eu até vos podia contar o raio da
história, que nada perdiam na leitura. Porque esta sim, é imprescindível. A história
de Stoner já foi contada mil vezes e mil vezes vivida. Um homem, simples e
humilde, que corta com o passado licenciando-se e descobrindo que há mais nele
do que aquilo que havia nos seus antepassados. Que chega a professor universitário.
Que sente o apelo da carne e que casa sem nunca ter feito amor, sexo. E não é
feliz. Não faz feliz. E um dia apaixona-se por uma mulher que não a sua. A
sociedade não aceita. Uma vida demolhada em ciúmes, mal-entendidos,
insensibilidades, silêncios, raiva. Digam lá, quantas vezes já ouviram esta
história? Muitas, certamente, mas nenhuma contada/escrita desta forma. Nunca,
durante a leitura, nunca, mas mesmo nunca, senti empatia pela personagem. Às
vezes senti pena, comiseração, mas nada mais. Ela passa por nós como um rio
suave e sem sobressaltos. Começamos e acabamos. E no fim vem a sublime tristeza
de já não ter mais paginas, mais palavras pela frente. Há livros que valem pela
história, outros pela forma como se escreve. Destes últimos, o mundo editorial
está escasso. Por isso, este Stoner vale ouro.
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