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segunda-feira, 16 de fevereiro de 2015

A vida dos outros


 Acho que devíamos todos começar por viver numa aldeia. Crescer assim, paredes meias com as vidas dos outros. Fazer-se uma catarse alheia. Lidar de perto com a intromissão. A rebelião que toma força nos outros. O catalisar atitudes alheias. Depois vamo-nos soltando das amarras. Vamo-nos fazendo à vida e quando isso acontece, é sempre de forma dolorosa porque a família é lata, os vizinhos são muitos, as intromissões são para lá de uma centena. Quando se consegue, fica-se imune a um diz-que-disse que carcome as entranhas.
Quem viveu numa aldeia e desejou a liberdade de atos sem ligar ao que vão dizendo, consegue passar incólume a um dia-a-dia onde vemos a nossa vida ser dissecada ao pormenor naquilo que dizemos, vivemos, vestimos, compramos, sentimos. Não é grave, é apenas incomodativo. Como aquelas picadas de melgas que chateiam mas não matam nem nos impedem de fazer o que tínhamos proposto fazer.

Eu vivi numa aldeia. Estou imune à maledicência alheia.  

6 comentários:

  1. Eu não vivi numa aldeia, mas vivo ainda hoje num meio pequeno.E é isso, deixamos de nos importar com o que dizem ou pensam. A minha vida é a minha vida e estou a fazer dela o melhor que posso. E está a ser preenchidíssima. Quem não está bem com isso, azar!

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  2. É isso mesmo. Mas tudo isto é um processo, que nos desgasta. Vale a pena chegar ao ponto em que se encontra. Beijinhos

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  3. Eu vivi numas terrinhas (pais professores), mas sobretudo em Lisboa. Os meus pais não gostavam das terrinhas, algumas dizia o meu pai que eram "microclimas de estupidez".
    Eu agora vivo numa aldeia. e no princípio fazia-me tanta confusão o tempo que se dedicava às vidas alheias, exactamente como tu dizes, aquela maledicência pura. O incómodo durou pouco. É verdade que há sítios que são autênticos microclimas de estupidez. Vale a pena conhecer os dois lados, e é fácil a opção a tomar. Ficar imune. Ainda bem que conseguiste.

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