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terça-feira, 5 de maio de 2015

a arte de enrolar um bolo

A primeira vez que fui a uma entrevista de emprego andava na faculdade e queria ganhar uns trocos extras. Nervosa como se vai a estas coisas de gente crescida, entrei naquele gabinete que cheirava a papel (um cheiro que me persegue) misturado com bolor. Depois de dissecadas as minhas características mais intelectuais, quiseram ir ao âmago da minha pessoa e perguntaram-me por uma aptidão de que me orgulhasse, que tivesse sido uma luta, uma batalha. Respondi: enrolar uma torta ...em perfeitas condições. Uma torta?, perguntaram. Sim, uma torta. Minha mãe ensinou-me durante anos, com uma paciência que só as mães têm, depois de partir mil bolos, até que consegui. Tenho o sabor da primeira ainda na boca, na cabeça, em mim. E desde que consegui a primeira, consegui todas as restantes. Uma vitória, portanto, de que me orgulhava. Uma torta. Uma torta com doce de tomate. As melhores. É difícil, sabem?, expliquei. Não fiquei com o emprego.



 (esta fiz este fim de semana para a minha filha dar à avó)

4 comentários:

  1. Mas devias! Não é para qualquer um!

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  2. tão bonito este texto... diz tanta coisa... reflecte aquela máxima de O Principezinho: "o essencial é invisível aos olhos"

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  3. Claro que os patrões insensíveis não apanharam esta...é demais para eles! Realmente enrolar uma torta não é para todos e ter coragem para o dizer numa entrevista muito menos ..eu ainda não consegui.. nem uma nem outra:)M.

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