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domingo, 23 de agosto de 2015

Fiat 600

Há anos que ando atrás de um Fiat 600 para recuperar. Eu, que não ligo a carros, tenho por este uma ternura imensa. É fácil perceber de onde vem esta mania: a minha professora primária, a professora Cândida, tinha um, vermelho, o mesmo tom do batom que usava. Ela chegava naquele carro de meter no bolso e tudo parava.
Ela foi e continua a ser uma grande referência para mim. Referência de uma mulher que viveu para lá do seu tempo, rompendo com dogmas instituídos. No recreio ela ensinava-nos a pintar os olhos e os lábios e, num tempo em que tínhamos de arranjar homem relativamente cedo senão 'ninguém nos pegava' ela  dizia-nos que devíamos ir estudar  para a grande alface, conhecer o mundo para lá da aldeia e namorar muito. E só devíamos casar com homens que nos tratassem bem, muito bem e que ajudassem em casa. Ah, e lá ia dizendo que não havia aquela coisa de 'trabalhos domésticos são coisas de mulheres'. Ela foi a primeira feminista que apanhei pela frente. Fumava e conduzia com um enlevo que eu sonhava um dia imitar. E lá estava, nesse já longínquo passado, aquele carro lindo, que abria as portas de maneira distinta, pequeno, algo cómico e maneirinho.

Por causa dessa imagem, sonho com um Fiat 600 vermelho. E de quando em vez atrevo-me a ir aos sites onde se vende tudo e vejo-os lá, lindos, à minha espera, mas tão caros que fecho logo o site.
Não faz mal, há sonhos que não surgiram para se tornarem realidades Há sonhos que apenas pertencem à terra dos sonhos.
É mesmo assim.

2 comentários:

  1. Lembro-me que a minha professora de escola primária bebia vinho ao almoço aos sábado e partia os pratos para não os lavar. Eu presenciei porque era a melhor amiga da filha dela e às vezes andava lá por casa. Acho que isso também era muito à frente, ou muito atrás de pensarmos em termos de loucura. hehe

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