Ele dizia-me que os homens há
muito que ajudam as mulheres na sua luta pela igualdade ‘não te esqueças,
Carla, que foram os homens, os machos, aqueles seres com tomates que criaram a
pílula para que vocês vivessem uma plena liberdade sexual’. Ri-me, mais por
dentro do que por fora porque não sou dada a ironias despropositadas. Mas com
calma, devagar, expliquei-lhe que a pilula não foi criada para que a mulher vivesse
a sua liberdade sexual, ou para a levar para um lugar mais próximo da liberdade
sexual do homem. Isso foi o propósito com que a mulher a utilizou e a absorveu
a certa altura. No entanto, quando a Enovid-10 bafejou o mercado, nos idos anos
60 do século passado, com a pilula, fez imbuído no espirito do pós-guerra e da
necessidade económica de ter as mulheres mais tempo no seu posto de trabalho. O
propósito foi este. Apenas e unicamente este. Inicialmente a mulher utilizou a
pilula para se inserir no mercado de trabalho e, consequentemente, evoluir
profissionalmente desejando lugares que nunca antes ousara alcançar. Pelo
caminho veio uma certa e, inicialmente, acatada liberdade sexual. Uma certa
liberdade sexual que é, ainda hoje, questionada por muitos homens e, pior, por
muitas mulheres.
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