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domingo, 10 de julho de 2016

ele morreu




Ele morreu. Ele tinha a mesma idade do meu pai e eram amigos. E primos. Ele morreu e a sua morte apanhou-me a meter um polvo ao forno, apanhou o meu pai a subir o Marão e o meu irmão numa feira de vinhos. Meu pai ligou-me. Imaginei-o parado com uma vista soberba e a dizer aquilo que é mais concreto: quando foi, a que horas é o funeral, e se eu devia de ir ou não. Perguntei-lhe varias vezes como estava. Disse que estava bem. Sei que com a morte dele o meu pai teve de se deparar com a sua própria morte. E eu com a morte do meu pai. Desligou. Liguei ao meu irmão. Entre nós é mais fácil falarmos de sentimentos… às vezes. No fim fui à varanda e chorei. Chorei sem que a minha filha visse. Meu pai continuou a subida até ao Marão; eu continuei a fazer o jantar e o meu irmão na feira. Não sei se no continuar da vida está a nossa força ou a nossa fraqueza. Não sei…

5 comentários:

  1. Força ou fraqueza, é o que for. Continuar sempre, e perceber como são preciosos todos esses momentos (Seja um polvo no forno ou uma caminhada no Marão). bjs

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  2. Realmente a ultima frase deixou-me a pensar. Obrigada!

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  3. Eu perdi o meu pai à 2 meses e ainda ando perdida.
    Força.
    beijinhos

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