O dia do pai está à porta e
este ano ele cutuca-me de forma distinta. Não penso tanto no meu querido pai,
mas no pai da minha Maria. A Maria tem um pai que é muito diferente de mim e ao
ser diferente de mim e ao sermos ambos os pais da Maria, ela tem uma realidade
e uma vivência muito rica. Ambos a queremos acima de tudo e para ambos ela é a
nossa prioridade. Por ela, deixamos de lado o que nos diferencia e tentamos
acordos. Temos conversas diárias. Gastamos o telemóvel com imagem e vídeos para
mandar ao outro na tentativa que o outro sofra menos na ausência. Porque doi.
Doi muito quando a sabemos com o outro sem que possamos estar a ver o que está
a fazer. E tentamos diminuir essa dor, esse enjeito, essa amargura. Mais belo ainda
- é por causa dela que ainda rimos em conjunto.
A Maria tem um pai e o pai da
Maria é o melhor pai que ela podia ter. Aqui há tempos perguntavam-me se eu
algum dia me arrependi deste pai para esta Maria. Nem respondi por achar a pergunta
tão descabida. Foi como se me perguntassem se eu acho que há limoeiros em
Marte. A Maria só existe porque há este pai e se voltasse atrás era com ele que
teria esta Maria. Não se muda a mãe e não se muda o pai. Ela tem tiques dele. É
tão clara quanto ele. Cabelo liso como o dele. Com um gosto musical especial
como ele tem. Até sardas a miúda já tem. A minha Maria não seria esta minha
Maria se não tivesse este pai. E este pai foi, talvez, a única coisa que
escolhi bem na vida. Porque escolhemos. Na maioria das vezes escolhemos ter
filhos com este ou aquele homem. E depois, muitas vezes, desdizemos de tal façanha. Como
se ter um filho fosse coisa pouca. Fosse uma loucura no meio de uma paixão. Ter
um filho deve ser pensado, ponderado para depois, mesmo depois da conjugalidade,
que se pode desfazer na espuma dos dias, haja a paternidade que nos une.
Quando ouço mães a falarem mal
dos pais às próprias crianças, penso que as estão a martirizar por uma escolha
que apenas às mães diz (disse) respeito. Há maus pais? Sim, há. Há pais que
depois de uma separação se esquecem dos filhos, sim há. Mas julga uma mãe que a
criança não sabe disso sem que lhe seja preciso dizer? Sabe, pois. A criança
sabe exatamente que tipo de pai é o seu pai. Não precisa do rancor da mãe em
cima das palavras para lhe fazer ver que aquela pessoa está aquém do que
gostaria. Não podemos amar os filhos, dizer que queremos o seu melhor e depois desdizer
do pai. Eu sei bem os defeitos do meu pai. Não foi a minha mãe que os disse.
Fui eu que fui descobrindo. Detestaria ouvir minha mãe falar mal do meu pai. Sei
bem os desfeitos do pai da Maria (e este saberá dos meus). E sei que o pai da Maria
nunca falará mal de mim. Se discordamos pegamos no telefone e falamos. Às vezes
gritamos. Discutimos. Desligamos com vontade de matar o outro.
Dá vontade de dizer: o teu pai isto ou o teu pai aquilo. E depois? Que tipo de mãe
seria se o fizesse? O que ganharia a Maria com isso? Mesmo quando ele faz
diferente do que eu gostaria, não está ele a fazer o seu melhor? Não estou eu a fazer o meu melhor quando faço diferente dele?
Há maus pais, que há, mas há mães
que podiam refletir mais e melhor quando falam com os filhos.
Que sirva para
isso este Dia do Pai que se aproxima.
Muito fixe, espetacular este post!!
ResponderEliminarParabéns por manteres este discernimento e inteligência emocional. De facto, entre um pai e uma mãe que se separam, houve em tempos, nem que tenha sido só no momento da conceção da criança, intimidade, cumplicidade e ternura. Isso, legitima para sempre o vínculo e a identidade como mãe e como pai perante a criança.
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Beijinho!!!1
Pode sim. Sinto-me lisonjeada. Beijinhos
EliminarNice post..correct think..cograt.
ResponderEliminarQue bom seria se todas e todos pensassem assim ....
ResponderEliminarA Maria tem muita sorte em ter pais assim. Um bem haja.
E nos temos muita sorte na Maria que nos calhou :) beijinhos
EliminarPor vezes utópico atingir este grau de reflexão sócio familiar. Mas existe quem consiga! Parabéns...
ResponderEliminarBasta termos os filhos como prioridade máxima e deixa de ser utópico. Beijinhos
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