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quarta-feira, 3 de janeiro de 2018

Seres gregários


 Em 1971, a Universidade de Stanford, quis levar a cabo uma experiência e para tal criou uma prisão fictícia onde 24 alunos, amigos entre si, se voluntariaram, metade para serem prisioneiros e a outra metade para serem os carcereiros. Eles foram escolhidos de forma aleatória. Os presos foram vestidos com uniformes típicos da prisão, foram tratados por um número, ou seja, destituídos de parte da sua personalidade. Os carcereiros tinham o papel de vigiarem os presos. A experiência teve de ser interrompida ao fim de seis dias porque os carcereiros começaram a ter atitudes sádicas, de verdadeiros carrascos. Os presos, mesmo os que eram mais afoitos, começaram a adquirir atitudes de profunda submissão. Esta experiência mostrou que o poder do grupo, o corporativismo, o que nos rodeia é tão forte que, muitas das vezes, aniquila a ética e muitas das normas adquiridas socialmente. O Homem é um ser gregário e influenciável. Lembrei-me disto por causa do R. Ele é dos mais críticos aqui no Facebook. Conheço-o bem. Fomos amigos longos anos. Conheci-o na faculdade. Em anos passados, frequentou a minha casa. É um feroz defensor da honestidade. Os políticos são todos uns corruptos, na sua boca. Critica o corporativismo, diz que é um meio cheio de vícios sem vislumbres de virtudes. Este país assim não vai lá, está sempre a dizer. Devíamos por os olhos na Suíça e na Suécia. Ali pagam-se impostos mas vê-se para onde são canalizados, dizia a miúde. Estamos rodeados de uma variadíssima cambada de desonestos em todas as áreas da sociedade. E lembro-me do dia em que vendi a minha casa e foi ele, mediador imobiliário, quem me fez o negócio. Vendi a casa a uma moça. Um dia, ele convidou-me para um café. Queria acertar uns pormenores do negócio. Vivia em Carnaxide e combinamos ali no Centro Cívico. Explicou-me que era o pai da moça que iria dar-lhe o dinheiro para a casa. Queria que o negócio fosse escriturado por um valor inferior e o restante era dado em dinheiro vivo. Explicou-me, como quem está habituado a essas lides, como poderia fazer com a sua comissão. Também seria, parte dela, paga em notas vivas. ‘Carla, não te preocupes que isso não te traz problema algum. Isto está sempre a acontecer. Temos de ser espertos senão somos engolidos’. Perguntei-lhe pela sua honestidade. Sorriu de forma nervosa. Não fizemos negócio. Sei bem por que motivo serei sempre uma remediada. Já ele, continua a mandar farpas na sua pagina e eu sorrio sempre que leio o escreve.

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