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segunda-feira, 30 de abril de 2012

O bicho da madeira


Não sei se alguma vez ouviram o bicho da madeira na sua labuta. É assim um barulho fininho e quase inaudível, mas que entra no ouvido e permanece. A primeira (e ultima) vez que ouvi foi há uns largos anos em casa dos meus pais. Estava a ver um filme algures pela madrugada dentro, sozinha na sala de estar. Deitada no sofá comecei a ouvir um barulho muito estranho, miudinho e se respirasse fundo a minha respiração anulava-o. Ao falar com o meu pai no dia seguinte ele disse-me ser o bicho da madeira que andava no frenesim de ‘comer’ uma madeira que forrava o teto da sala. Para que serve esta introdução? Ora vamos lá: Ontem, vinha eu a conduzir pela A1 e comecei a sentir uma dor estranha e fina dentro, bem dentro, dos meus joelhos. Não era, de todo, insuportável, era apenas chata e estranha. E parecia que tinha algo a roer-me o menisco, os ossos, a cartilagem do joelho. Comecei por reduzir o som da música e ficar apenas o carro a girar sobre o asfalto e eu a quase não respirar a ver se ouvia o bicho que tinha dentro dos joelhos a roer. Porque pelo que estava a sentir quase jurava que o deveria ouvir. E parecia a labuta de um bicho da madeira naquele rec-rec-rec constante. Não o ouvi. Apenas senti e pela primeira vez, entre Torres Novas e o Cartaxo, senti a doença a ‘comer-me’ viva. Não foi doloroso, apenas e unicamente estranho.

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