Não sei se
alguma vez ouviram o bicho da madeira na sua labuta. É assim um barulho fininho
e quase inaudível, mas que entra no ouvido e permanece. A primeira (e ultima)
vez que ouvi foi há uns largos anos em casa dos meus pais. Estava a ver um
filme algures pela madrugada dentro, sozinha na sala de estar. Deitada no sofá
comecei a ouvir um barulho muito estranho, miudinho e se respirasse fundo a
minha respiração anulava-o. Ao falar com o meu pai no dia seguinte ele disse-me
ser o bicho da madeira que andava no frenesim de ‘comer’ uma madeira que
forrava o teto da sala. Para que serve esta introdução? Ora vamos lá: Ontem,
vinha eu a conduzir pela A1 e comecei a sentir uma dor estranha e fina dentro,
bem dentro, dos meus joelhos. Não era, de todo, insuportável, era apenas chata
e estranha. E parecia que tinha algo a roer-me o menisco, os ossos, a
cartilagem do joelho. Comecei por reduzir o som da música e ficar apenas o
carro a girar sobre o asfalto e eu a quase não respirar a ver se ouvia o bicho
que tinha dentro dos joelhos a roer. Porque pelo que estava a sentir quase
jurava que o deveria ouvir. E parecia a labuta de um bicho da madeira naquele rec-rec-rec constante. Não o ouvi. Apenas
senti e pela primeira vez, entre Torres Novas e o Cartaxo, senti a doença a ‘comer-me’
viva. Não foi doloroso, apenas e unicamente estranho.
Sem comentários:
Enviar um comentário