Páginas

quarta-feira, 22 de maio de 2013

dos meus dias ocos

paro agora. São quase onze horas e eu desde as oito da manhã que não consegui parar. Foi agora. Tenho dias em que me sinto completamente exaurida do trabalho profissional, do trabalho doméstico, da maternidade, de tudo porque não consigo parar um segundo para pensar, ou simplesmente para não pensar e apenas descansar. A artrite reumática atacou em cheio as mãos. Dói-me conduzir, dói-me pegar numa caneta, dói-me lavar o cabelo, pegar na minha filha, dói simplesmente mexer as mãos. Mas passei o dia sem me queixar. Não dei um ai para a Eduarda, nem para o Martinho, nem para a Marta, nem para o Rui, nem para o mano, ninguém soube que me doía muito as mãos porque quando não digo faço-o com o intuito de me tentar esquecer. Mas não consegui. Por fim, a consulta dos dois anos e meio da minha filha. Lá fui com ela ao pediatra que parece o John Malkovich mas em bonito. Apertou-me demasiado a mão para me cumprimentar. Contraí-me e ele percebeu. Olhou. Entendeu. Ele sabe. Ficou um segundo em silêncio e como percebeu que eu não falei, também nada disse. A minha filha está ótima. Recomenda-se, diz ele. e fala muito rápido. Tenho dificuldades em entendê-lo, em acompanhá-lo. Pego no meu bloco. Revejo com ele tudo o que me causava dúvida. Ele ouve atentamente. Vim embora com ela com os joelhos arranhados e sujos. É da energia que tem. Penso se ela terá herdado alguma das minhas patologias. Espero que não. Deito-a e rezo baixinho com ela «anjo da guarda minha companhia, guardai a Maria de noite e de dia». Beijo-a. Digo que a amo e venho para aqui escrever isto que, pensando bem, ou nem precisando de pensar, não interessa a ninguém. há dias assim, ocos como uma castanha seca.

10 comentários:

  1. Olá,
    acompanho o seu blog mas é a primeira vez que comento só para lhe dizer que não está sózinha nessa sua jornada diária. O que nós achamos que não tem qualquer interesse para os outros, às vezes vai mesmo de encontro ao pensamento e aos sentimentos de outras pessoas.
    Força e ânimo é o que lhe desejo e recomendo nesses dias dificeis. Também os tenho e realmente lá em casa ninguém dá por eles porque não chateio ninguem e tambem não sou de me queixar.
    Bj grande,
    Lucia

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Fiquei muito sensibilizada por ter escrito e por ter escrito neste post. É bom, por um lado, saber que não estamos sozinhos. Sejam estas ou outras dores, todos temos as nossas. E é muito de nós, mulheres, guardarmos a dor para nós. Soube muito bem saber que não sou ave rara. Obrigada. Fique por aqui a ler porque nada vale escrever se não houver quem nos leia. Beijinhos

      Eliminar
  2. Não me pareceu nada, nada, nada oco. Um grande beijinho e as melhoras (comovi-me "Não dei um ai para a Eduarda, nem para o Martinho...")

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. obrigada Vera. Hoje estou um pouco melhor, e como pode imaginar, recebi um grande abraço da eduarda :)

      Eliminar
  3. Cheguei a este blog por acaso, pois tinha feito uma pesquisa no Google sobre os Bispos na Parede... já não me lembro porque é que fiz a pesquisa, porque tecidos não é um assunto em que seja especialmente versado, mas fui ficando. Espero que as dores passem. Essa afecção é o pavor dos pianistas enão só :(

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. El Gato (nome curioso), não dava nada pelo meu post que entretanto me tem dado tanto, mas indo mais longe, não imagino quem me lê, não sei quem são, apenas tenho a quantidade de visualizações, em que post e de que país acedem. De resto, nada mais e às vezes tento imaginar, mas sei que nunca saberei, a não ser que de quando em vez, quem me lê levante um pouco a manta. Como fez. fiquei a saber: Um homem. Procurando sobre os Bispos, mesmo não sendo alfaiate :) é uma das pessoas que me lê. Vale tanto a pena descobrir. Vou esperando que fique por aqui. obrigada

      Eliminar
    2. El Gato, mas com pronúncia norte-americana, assim como quem acha que adora Lisboa e toda a restante Espanha :-)
      Antes assinava como João A., mas a certa altura fui obrigado a criar uma conta para comentar certos blogues, e ficou El Gato.
      Foi neste blogue que aprendi a fazer os ovos à la mano.
      Passaram a ser o meu jantar várias semanas seguidas (meses, até), o que mostra a minha falta de imaginação culinária (corrijo: jeito tout court).
      Depois fiz umas análises ao sangue que revelaram que o meu colesterol estava a ficar alto e desde então ovos é coisa que nunca mais entrou em minha casa. Receio ser um homem de extremos :-)

      Eliminar
    3. Ah, já me lembro. Mas El Gato (com sotaque) prometo ensinar uma refeição sem colesterol e facil, facil. Vou pensar nisso com jeitinho e em breve terá novas minhas (o que eu faço para não perder leitores :))

      Eliminar
  4. E nós aqui tão perto
    E não ouvimos um “Ai”.
    Teus sorrisos já nos enganam bem,
    Teus sorrisos revezam as lágrimas que todos os teus “Ais” deveriam libertar.
    E nós aqui tão perto
    E tão poucas vezes escutamos os teus “Ais”
    E nós aqui tão perto
    E não soubemos ouvir teu silêncio
    Como nós estivemos longe!

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. nunca estiveram longe, nunca, apenas estiveram ou eu vos coloquei. Mas voces nunca estão longe de mim, nunca.

      Eliminar