Filipa Elvas, Queen of China
Filipa Elvas, foto gentilmente roubada à irmã, Vera Elvas |
Isto de se ter uns aninhos de
entrevistas em cima do lombo faz com que, em grande parte das vezes, saibamos,
no primeiro minuto, que género de entrevistado temos à frente. Às vezes temos
de fazer uns jogos para que a coisa corra bem, ou se quiserem, para que a coisa
não corra mal de todo, mas outros existem que a entrevista passa a conversa e
debulha-se um rol de passado e sonhos futuros com muita vontade e satisfação.
Quando a Filipa Elvas me chegou
para uma entrevista (que saiu numa outra revista), eu soube, no segundo
seguinte, que iria gostar dela, que iria ser uma boa conversa e que os anos que
tivesse pela frente não me iriam deixar que ela entrasse no esquecimento.
Agora, que escrevo quase dois meses após essa conversa, sei que jamais me
esquecerei. E fosse eu brasileira diria: mesmo, né!
Da Filipa todos sabem o feito: a primeira e
única mulher a acabar a maratona da Grande Muralha da China. Olhamos para os
jornais, para a televisão e vemos uma rapariga (vá, miúda) franzina e acabar a
prova, a passar a meta com a bandeira às costas. Ela fez toda a dura prova de
bandeira de Portugal às costas. Fosse eu e não só não fazia um terço da
maratona como a dada altura, com a gana, com o cansaço, com os pulmões a
saírem-me pela boca, estou certíssima que mandava para as urtigas o raio da
bandeira. E não é que não seja nacionalista, que até sou.
Filipa conta que o seu primeiro impacto foi quando se deparou com o primogénito degrau. Pela descrição, chamar degrau a uma coisa do tamanho de uma máquina de lavar a loiça é uma metáfora. Para mim, o que a Filipa teve de fazer foi subir e descer muros. Muros e mais muros. E ela subiu. E ela desceu. E nos entretantos correu. Bandeira às costas, obstinada e focada no fim, na meta. Quem ultrapassasse as oito horas era desclassificada, era como se tivesse corrido para o boneco. Filipa sabia que tinha de passar as passas do algarve para chegar ao fim em menos de oito horas. E lá foi. Pelo caminho foi vendo os que ficavam para trás, homens e mulheres, no limite do suportável e a dizerem: good luck Portugal! E ela continuava, no seu tão típico silêncio. ( Vamos lá abrir um parenteses aqui: Filipa nunca corre com música, nunca. Ela gosta de sentir o barulho dos pés no chão, o embalo do coração no peito, e rever a cara dos que ama na cabeça. É assim que corre. Depois um relógio de 7 euros no pulso que comprou na sport Zone e os calções velhos, mais uma t-shirt igualmente usada, cabelo apanhado e lá vai ela, a nossa pequena - GRANDE - mulher. Fechar parenteses). E chegou ao fim. A única mulher a conseguir. Filipa ajoelhou-se e chorou. Foi a forma que teve de explodir que nem um foguete. Chorar e chorar. Nesse dia à noite mandou um email para a família. Falava da emoção que sentia. De como os tinha sentido perto. E com isto ela quis dizer o quanto os amava. Foi, também, a forma que ela teve de festejar com eles, através de um e-mail, de palavras para sempre ditas. E agora uma pausa. Estamos aqui, só nós as duas. Talvez nós os três: eu, a filipa e o leitor e nesta intimidade a Filipa disse algo que me ficou a pairar: sabes, nunca temos tudo na vida. Calei-me. O leitor calar-se-á também, certamente. Este é um desabafo íntimo, dela, que apenas ousou fazê-lo como descarga emocional. Porque na Filipa é tudo mais sentimento que razão. E nela fica provado que a emoção, quando bem utilizada, quando bem alimentada, vale mais, pode mais, é mais forte que a razão fria e pura. A Filipa, por si só, aniquila uma serie de ideias pré-feitas. Uma delas, a primeira que cai logo por terra é que é preciso um longo historial desportivo para se conseguir o feito que ela conseguiu. Esqueçam lá isso. Sabem o que é preciso? Vontade e determinação, misturado com uma cabeça obstinada. Filipa corre há dois anos. Não, não é erro meu, quis escrever mesmo ‘dois anos’. E é ela que o diz ‘todos nós conseguiríamos mais coisas se as julgássemos menos impossíveis’. Tomem lá que é para aprenderem. Filipa tem uma vida normal e é uma rapariga normal. E esta normalidade estranha-se, porque cria-se a ideia de que vamos falar com alguém cheio de tiques e manias, alguém com uma estrutura física que nos fizesse logo compreender as suas metas e vitórias, mas não, a Filipa é franzina, feminina, bonita, voz rouca e de sorriso fácil. É funcionária da TAP (com muito orgulho, atestei) e vive paredes meias com o Jamor, seu ginásio ao ar-livre. Irmã gémea da Vera (a minha querida Vera, permitam-me este comentário menos profissional, mas isto é um blogue sem pretensões a ser mais do que isso), filha dedicada e tia babada. É tão normal, mas tão normal que, durante a nossa conversa tive vontade de lhe perguntar se ela é mesmo aquela que passou a meta da dura prova na mítica e única Muralha da China.
Filipa conta que o seu primeiro impacto foi quando se deparou com o primogénito degrau. Pela descrição, chamar degrau a uma coisa do tamanho de uma máquina de lavar a loiça é uma metáfora. Para mim, o que a Filipa teve de fazer foi subir e descer muros. Muros e mais muros. E ela subiu. E ela desceu. E nos entretantos correu. Bandeira às costas, obstinada e focada no fim, na meta. Quem ultrapassasse as oito horas era desclassificada, era como se tivesse corrido para o boneco. Filipa sabia que tinha de passar as passas do algarve para chegar ao fim em menos de oito horas. E lá foi. Pelo caminho foi vendo os que ficavam para trás, homens e mulheres, no limite do suportável e a dizerem: good luck Portugal! E ela continuava, no seu tão típico silêncio. ( Vamos lá abrir um parenteses aqui: Filipa nunca corre com música, nunca. Ela gosta de sentir o barulho dos pés no chão, o embalo do coração no peito, e rever a cara dos que ama na cabeça. É assim que corre. Depois um relógio de 7 euros no pulso que comprou na sport Zone e os calções velhos, mais uma t-shirt igualmente usada, cabelo apanhado e lá vai ela, a nossa pequena - GRANDE - mulher. Fechar parenteses). E chegou ao fim. A única mulher a conseguir. Filipa ajoelhou-se e chorou. Foi a forma que teve de explodir que nem um foguete. Chorar e chorar. Nesse dia à noite mandou um email para a família. Falava da emoção que sentia. De como os tinha sentido perto. E com isto ela quis dizer o quanto os amava. Foi, também, a forma que ela teve de festejar com eles, através de um e-mail, de palavras para sempre ditas. E agora uma pausa. Estamos aqui, só nós as duas. Talvez nós os três: eu, a filipa e o leitor e nesta intimidade a Filipa disse algo que me ficou a pairar: sabes, nunca temos tudo na vida. Calei-me. O leitor calar-se-á também, certamente. Este é um desabafo íntimo, dela, que apenas ousou fazê-lo como descarga emocional. Porque na Filipa é tudo mais sentimento que razão. E nela fica provado que a emoção, quando bem utilizada, quando bem alimentada, vale mais, pode mais, é mais forte que a razão fria e pura. A Filipa, por si só, aniquila uma serie de ideias pré-feitas. Uma delas, a primeira que cai logo por terra é que é preciso um longo historial desportivo para se conseguir o feito que ela conseguiu. Esqueçam lá isso. Sabem o que é preciso? Vontade e determinação, misturado com uma cabeça obstinada. Filipa corre há dois anos. Não, não é erro meu, quis escrever mesmo ‘dois anos’. E é ela que o diz ‘todos nós conseguiríamos mais coisas se as julgássemos menos impossíveis’. Tomem lá que é para aprenderem. Filipa tem uma vida normal e é uma rapariga normal. E esta normalidade estranha-se, porque cria-se a ideia de que vamos falar com alguém cheio de tiques e manias, alguém com uma estrutura física que nos fizesse logo compreender as suas metas e vitórias, mas não, a Filipa é franzina, feminina, bonita, voz rouca e de sorriso fácil. É funcionária da TAP (com muito orgulho, atestei) e vive paredes meias com o Jamor, seu ginásio ao ar-livre. Irmã gémea da Vera (a minha querida Vera, permitam-me este comentário menos profissional, mas isto é um blogue sem pretensões a ser mais do que isso), filha dedicada e tia babada. É tão normal, mas tão normal que, durante a nossa conversa tive vontade de lhe perguntar se ela é mesmo aquela que passou a meta da dura prova na mítica e única Muralha da China.
Obrigada Filipa, por tudo mas
em especial pela inspiração.
Muitos parabéns à Filipa. As suas palavras fazem-me, também eu, gostar dela.
ResponderEliminarQue feito! Parabéns.
Ela é realmente encantadora! Obrigada Helena pelas suas palavras. Fique por aqui... Bjs
EliminarMuitos Parabéns à Filipa, mas principalmente muitos parabéns a si por publicar isto!
ResponderEliminarLigia, obrigada pelo seu comentário. Fique por aqui porque estou a organizar mais testemunhos de pessoas assim, unicas. Obrigada por me ler. Beijinhos
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