Aquilo que nos cura pode estar para lá da medicina
Há
uns valentes anos, tinha sido chamada a uma junta médica porque, após uma
operação à coluna, estava há mais de um mês de baixa médica. Achei, na altura,
que eles me iriam mandar trabalhar, coisa que o médico que me operou não
queria, mas que eu estava desejosa de fazer. Arranjei-me o melhor que pude e lá
fui, esperançosa que me mandassem fazer alguma coisa pelo país. Quando cheguei
à tal junta, tinha cerca de dez pessoas à minha frente e todas elas com um ar
bem mais desgraçado que o meu. Sentei-me ao lado de uma senhora que estava tão
pálida, mas tão pálida que quando ela falou comigo assustei-me. Parecia ter saído
da tumba. E eis as sábias palavras da senhora: ‘minha querida, com essa cara
toda laroca e pintadinha, não se escapa. Eles mandam-na trabalhar enquanto o
diabo esfrega um olho. Quer maquilhagem para disfarçar que tenho aqui na bolsa?’
E a senhora tinha um kit tipo palhaço de onde provinha a cor branca da sua pele,
e o preto das suas olheiras. Recusei amavelmente e ela suspirou com tristeza
por sentir que eu era um caso perdido. Quando ela saiu da reunião com a junta,
vomitava palavrões. Tinha sido levantada a sua baixa e a senhora morta-viva
tinha de ir trabalhar. Ela estava furiosa e desavinda com Deus e o mundo. Chegou
a minha vez e pedindo aos cinco médicos que me olhavam com antipatia que me
mandassem trabalhar, eles mandaram-me para casa o tempo todo que o médico que
me operou achasse conveniente. Isto deve explicar o quanto detesto ficar em
casa, meter baixa. Mas a verdade é que vamos arranjando maneiras de nos
defendermos daquilo que não gostamos, por isso, depois de uma semana difícil no
que à saúde diz respeito, sábado (ontem) consegui levantar-me o tempo
suficiente para fazer um bolo com a minha filha. Fomos para a cozinha e sob o
olhar atento dela, segui os passos da receita, tudo a preceito e a cada passo
ela dizia ‘boa, mamã’. Não sei se a minha filha vai ser cozinheira, mas sinto
que vai gostar da cozinha tanto quanto eu gosto. E certamente irá recordar,
como eu recordo, os momentos que mãe e filha partilham enquanto se pesa a
farinha, se partem uns ovos, se espreita para o forno e se vê o bolo a crescer.
A minha filha canta para ele porque acha que isso o faz mais docinho. E deve
fazer. E para mim bolo rima com Antony and the Johnsons, baixinho, a cantar
naquele jeito sublime que só ele sabe fazer. Depois voltei para a cama. Mais
feliz. Mais capaz de aguentar as melhoras que, devagar, devagarinho, já espreitam.
Muita força e muita coragem. É um prazer ler as palavras que escreve com carinho :)
ResponderEliminarobrigada Raquel e beijinhos
ResponderEliminarcom tanto cArinho, o bolo deve estAr uma deliciA e tu bem melhor!
ResponderEliminarOlha quem é ela!!! Beijinhos cris cris :)
Eliminarsão sempre palavras tão bonitas por aqui. obrigada (e as melhoras) :)
ResponderEliminarOh como isso me alegra! Eu é que agradeço ter quem me leia. Beijinhos ana
EliminarBeijos muitos.
ResponderEliminarÉ um privilégio ser tua amiga.
e eu tua, querida. beijinhos
Eliminaras melhoras, Frida!
ResponderEliminarbeijinhos
Alexandra (a do Porto)
obrigada. Beijinhos
EliminarAs maleitas assim ficam mais fáceis de levar. As melhoras.
ResponderEliminarUm beijinho
Outro assunto, em relação ao pedido que lhe fiz para me dar a morada para enviar as botas, mandei-lhe a mensagem privada como me pediu, recebeu-a?
helena, não recebi nada. Colocou bem o mail? beijinhos
EliminarUsei o endereço de e mail que vi aqui no blogue. Vou enviar de novo.
EliminarUm beijinho