todos nós temos um animal associado

Sou uma gaja independente o que no meu caso significa que sou uma gaja estupida.

Ontem comecei a  perceber que o dia de hoje iria ser difícil. Muito. E em vez de ligar para os amigos que tenho e que são dos bons, para me ajudarem com a miúda e comigo mesma, entendi meter-me na cama mais cedo, como se isso adiantasse alguma coisa. Manias de gaja autónoma. Depois de a miúda ir para a cama, emborquei alguns comprimidos e toca de ir também refastelar-me no aconchego dos meus lençóis. Acordei às 5 da matina com o peso bruto que o lençol me provocava. Arrastei-me para a casa de banho e aqui achei, também, que se me metesse em água quente umas três horas, deixava de estar semirrígida para conseguir tratar das lides de casa quando o sol raiasse. Esqueçam estas balelas de tipa com-a-mania-que-é-inteligente mas que é burra que nem uma porta. Quando a miúda acordou, continuei sem conseguir mexer-me. Os pulsos estavam a arder, os calcanhares também e nem os joelhos se aproveitavam. Andava corcunda pela casa e tentei, ao máximo, animar-me com a minha pequena. Ela acorda cheia de energia. E mãe isto. E mãe aquilo. E mãe salta comigo. Mãe dança comigo. A miúda é física, muito física. Não fiz nada disso. Tentei vesti-la com a ajuda dos dentes e consegui metê-la na cadeirinha do carro com os dentes. Sim, tenho artrite reumatoide mas os dentes são uma pequena maravilha do universo. Foi com os dentes que consegui abrir a cerelac e com os dentes consegui abrir a mochila dela. Ela achou estranho mas riu-se. Conduzi devagar para a escola (com as mãos, nada de dentes aqui, mas sei que conseguiria) e na escola consegui tirá-la sem a mandar para o chão, mais uma vez com a ajuda dos dentes. Quando a minha filha entra na sala dela vira-se para a educadora e diz:

 - A mamã é um cão, deu a papa com os dentes e vestiu-me com os dentes.