Foi a festa de fim de ano da
minha filha. Mais um ano passou. Os dias correm de tal forma que olho-a e deparo-me
com as pernas grandes, os acenos firmes,
as palavras compostas, as expressões de criança a querer ser menina, o olhar de
quem vai entendendo mais e mais, o sorriso cúmplice e é tudo muito rápido. demasiado rápido.
Foi a
festa dela e pela primeira vez sentia-a feliz no palco. Saltou e dançou
com toda a pujança de quem tem o tempo todo pela frente e durante todo esse tempo
não consegui deixar de pensar na Júdite do André; simplesmente não consegui.
Foi assim uma dor egoísta porque o que me assusta é o receio de um dia ter de
viver uma dor daquelas, que esmaga, que mata, que nos obriga a viver sem o
oxigénio que alimenta o nosso coração. Olhava-a a saltitar e o meu coração
ficava assim, enorme de emoção e logo de seguida o medo de a perder tomava
conta de mim e desfazia-me, reduzia-me a nada. Ando assim, sensível. Metida
comigo mesma. Em contramão. Ando em contramão. CONTRAMÃO Porque a vida encerra dias
complexos, difíceis, onde até o nosso silêncio incomoda cá dentro, faz eco…
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