Ele
escreve maravilhosamente bem e a dada altura perguntei-lhe se não lhe dava para
divagar quando tinha de escrever um qualquer processo no âmbito da advocacia.
Ele riu-se e disse que, inicialmente, tinha essa mania mas depois ninguém lia,
ninguém queria saber das suas palavras mais belas, queriam que ele fosse pragmático
e direto ao assunto. Hoje lembrei-me dele quando estava a escrever uma
informação. Há modelos de informação a seguir, que isto não é uma ramboia, mas
eu tenho dificuldade em segui-los. Desatei a fazer um texto, focada no que
tinha para dizer, mas sem seguir nenhum modelo. Fui ao sabor da pena. Palavra
mimosa para aqui; palavra mimosa para acolá. Ouço música enquanto escrevo.
Reflito no município como se refletisse sobre a beleza da floresta amazónia, ou
o conto de fadas que é a cidade de Praga. Espraio-me no papel como se
descrevesse pormenorizadamente a forma lenta e apaixonada com que a minha mãe
faz uma calda de carne para o arroz de forno. No fim, espero que a minha chefe
me diga: ‘Menina Carla, e que tal seguir os modelos instituídos? Se eu quisesse
ler um livro, escolhia Coetzee…’
E eu
volto a pegar no que escrevi e pragmatizo.
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