‘sabes o que mais gosto em
ti?’ a pergunta foi-me feita numa outra
vida, mas lembro-me como se fosse hoje. Ele vestia uma camisola vermelha de
gola alta e o frio parecia rachar a pele. Com um ar dengoso perguntei ‘o quê?’,
à espera de ouvir dizer que era a minha boca, o sorriso, as mãos, as mamas, o
sentido de humor, sei lá, tudo menos ‘o que eu mais gosto em ti é a tua
lasanha’. A partir desse dia nunca mais fiz uma lasanha em condições. Faço, mas
não me dedico a ela. Não é por ciúmes, mas por desamor.
A comida está intrinsecamente
ligada à minha pessoa. Vagueio num supermercado com a mesma satisfação com que o
faço em plena Avenida da Liberdade. Pelo caminho já odiei uns pratos e amei
outros. No entanto, o amor pela comida, pela cozinha, pelos livros de culinária
tem vinda o crescer. Por isso, quando me sugeriram que não escrevesse sobre
comida neste blog, fiquei um tanto ou quanto triste, amuei um pouco, refleti e
cheguei à conclusão que não vou deixar de o fazer. Não vou porque não posso. Era
como deixar de falar de mim. Foi à volta da cozinha que cresci com minha mãe
perto, com as minhas tias em ensinamentos temperados, a rirem de tudo, a
ensinarem-me como se lava umas tripas, se mata um coelho e se depena uma
galinha. Sobrevivia na selva, portanto. Ainda hoje é o meu sítio preferido da
casa. Na cozinha curo de dramas e guerras interiores e alimento a alma com
prazeres indizíveis. Não posso deixar de falar de comida, não posso. Apenas
prometo nunca trazer aqui um prato de lasanha. Nunca. Estamos esclarecidos?
Para compensar, toda a gente fala da minha lasanha e diz que é inesquecível! :)
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