Nunca me preparei muito para
ser mãe. Mesmo quando andava em tratamentos, nunca me deitei no sofá a arrumar
a cabeça. Queria ser mãe. Apenas isto. A minha mãe sempre me disse que quando
nasce um filho nasce, nesse preciso momento, uma mãe. Esperava que isso
acontecesse comigo. Que o instinto
subisse em mim como uma maré( podia colocar aqui a metáfora ‘como o leite’, mas
foi demasiado doloroso para o utilizar). Comprei livros e outros ofereceram-me
e a única vez que os abri foi para ver se as borbulhas eram de varicela ou de
uma melga ameaçadora. De resto, deixei que o instinto entrasse em mim, de
rompante, e me dissesse o que fazer com ela. Não sei se fiz sempre bem. Não me
preocupo muito com estas questões. Basta-me vê-la feliz e sei que alguma coisa
neste caminho tem resultado. E o raio da miúda é mesmo feliz. Não sei se a
estimulo como mandam os manuais. Nem sei se quando me mando para a banheira
cheia de espuma (já o fiz vestida) só para a ver soltar o riso, se faço bem. Se
calhar estou a mostrar-lhe um mundo errado. Que isto de palhaços tem pouco. Não
sei. E também não sei se quando vamos as duas aos altos berros a cantar numa
desafinação constante as suas músicas a caminho da escola, se devia exigir-lhe
contenção. E quando saio da escola a saltar com os outros pais a olharem para
mim, se calhar estou a mostrar-lhe que não faz mal ser-se um pouco louca.
Porque sei que faz. Sei que vivemos de aparências e que estas podem elevar ou
matar. Hoje perguntaram-me que género de mãe sou. Disse ‘não sei’ e de seguida
rematei ‘sei que ela é feliz, alguma coisa de bem estou a fazer’. E essa pessoa
riu-se, com algum desdém, porque vai a workshops de parentalidade, de
maternidade, de relacionamento uterino e beu-beu-beu pardais ao ninho. Eu não
vou a nada disso. Nunca fui. Não sei se ando
a fazer bem. Não sei. Ontem ouvíamos musica clássica com Mozart a sair
da sua kitty-que-é-uma-aparelhagem, e ela dizia-me: mãe, quem inventou a música
clássica? E quando eu pensei em responder-lhe de forma simples, ela questiona: ‘foste
tu? É que é tão bonita!’. E não, infelizmente não fui eu, filha… nem sei se nos
workshops nos ensinam o que dizer quando um filho nos pergunta quem inventou a música
clássica, mas sei que o seu mundo pequeno, minúsculo é um belo mundo e com bons
tons. Por enquanto, isto basta-me.
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