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quarta-feira, 12 de novembro de 2014

Quem inventou a música clássica?

Nunca me preparei muito para ser mãe. Mesmo quando andava em tratamentos, nunca me deitei no sofá a arrumar a cabeça. Queria ser mãe. Apenas isto. A minha mãe sempre me disse que quando nasce um filho nasce, nesse preciso momento, uma mãe. Esperava que isso acontecesse comigo.  Que o instinto subisse em mim como uma maré( podia colocar aqui a metáfora ‘como o leite’, mas foi demasiado doloroso para o utilizar). Comprei livros e outros ofereceram-me e a única vez que os abri foi para ver se as borbulhas eram de varicela ou de uma melga ameaçadora. De resto, deixei que o instinto entrasse em mim, de rompante, e me dissesse o que fazer com ela. Não sei se fiz sempre bem. Não me preocupo muito com estas questões. Basta-me vê-la feliz e sei que alguma coisa neste caminho tem resultado. E o raio da miúda é mesmo feliz. Não sei se a estimulo como mandam os manuais. Nem sei se quando me mando para a banheira cheia de espuma (já o fiz vestida) só para a ver soltar o riso, se faço bem. Se calhar estou a mostrar-lhe um mundo errado. Que isto de palhaços tem pouco. Não sei. E também não sei se quando vamos as duas aos altos berros a cantar numa desafinação constante as suas músicas a caminho da escola, se devia exigir-lhe contenção. E quando saio da escola a saltar com os outros pais a olharem para mim, se calhar estou a mostrar-lhe que não faz mal ser-se um pouco louca. Porque sei que faz. Sei que vivemos de aparências e que estas podem elevar ou matar. Hoje perguntaram-me que género de mãe sou. Disse ‘não sei’ e de seguida rematei ‘sei que ela é feliz, alguma coisa de bem estou a fazer’. E essa pessoa riu-se, com algum desdém, porque vai a workshops de parentalidade, de maternidade, de relacionamento uterino e beu-beu-beu pardais ao ninho. Eu não vou a nada disso. Nunca fui. Não sei se ando  a fazer bem. Não sei. Ontem ouvíamos musica clássica com Mozart a sair da sua kitty-que-é-uma-aparelhagem, e ela dizia-me: mãe, quem inventou a música clássica? E quando eu pensei em responder-lhe de forma simples, ela questiona: ‘foste tu? É que é tão bonita!’. E não, infelizmente não fui eu, filha… nem sei se nos workshops nos ensinam o que dizer quando um filho nos pergunta quem inventou a música clássica, mas sei que o seu mundo pequeno, minúsculo é um belo mundo e com bons tons. Por enquanto, isto basta-me. 

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