Uma das características de uma aldeia
é que as pessoas vivem mais a vida das outras pessoas que as suas. Catalisam o
que os seus olhos vêem ou aquilo que a sua imaginação acrescenta, mais, muito
mais do que aquilo que a si mesmas diz respeito. Aprende-se a viver assim. Não
se liga. Por vezes rimo-nos. Olha-se para o que ouvimos como se tudo não passasse
de um livro onde o enredo tem coisas similares à nossa vida. Mas é apenas isso:
coisas similares.
Trabalhar num sítio onde, não
obstante de sermos muitos, tem a mesma característica, obriga-nos a mecanismos
de defesa como se numa aldeia vivêssemos. Catalisamos a vida dos outros, não
vivendo a nossa. Imaginamos o que aquele rapaz pensa; imaginamos a vida daquela
rapariga; descortinamos dores onde nem sabemos que existe; comentamos
leviandades onde nem acreditamos que haja sofrimento. Rimos daquilo que nem
sabemos e choramos dores inexistentes. Era bem mais interessante se enfiássemos
o nariz naquilo que é estritamente nosso. Era pois, mas não o fazemos. Por
isso, é como na aldeia, olhamos para o que nos dizem e o que nos contam como se
fosse uma peça de teatro, um filme ou um livro. Algures pelo meio estamos nós e
outras pessoas que conhecemos. Tudo o mais é distinto. Não roça sequer a
realidade. Fica a quilómetros. Mas isso já não importa. A história que corre é
outra. Nestes casos não há desmentidos em jornais, nem nas redes socais. Apenas
uma inverdade que tomamos como verdade de tantas vezes a ouvirmos.
A vida é curiosa.
É exactamente como o descreves, esta hábito de tirar ilações, comentar e opinar sobre o colega, o vizinho ou o desconhecido como se soubéssemos alguma coisa.
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