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quarta-feira, 21 de janeiro de 2015

A vida dos outros é sempre tão...


Uma das características de uma aldeia é que as pessoas vivem mais a vida das outras pessoas que as suas. Catalisam o que os seus olhos vêem ou aquilo que a sua imaginação acrescenta, mais, muito mais do que aquilo que a si mesmas diz respeito. Aprende-se a viver assim. Não se liga. Por vezes rimo-nos. Olha-se para o que ouvimos como se tudo não passasse de um livro onde o enredo tem coisas similares à nossa vida. Mas é apenas isso: coisas similares.
Trabalhar num sítio onde, não obstante de sermos muitos, tem a mesma característica, obriga-nos a mecanismos de defesa como se numa aldeia vivêssemos. Catalisamos a vida dos outros, não vivendo a nossa. Imaginamos o que aquele rapaz pensa; imaginamos a vida daquela rapariga; descortinamos dores onde nem sabemos que existe; comentamos leviandades onde nem acreditamos que haja sofrimento. Rimos daquilo que nem sabemos e choramos dores inexistentes. Era bem mais interessante se enfiássemos o nariz naquilo que é estritamente nosso. Era pois, mas não o fazemos. Por isso, é como na aldeia, olhamos para o que nos dizem e o que nos contam como se fosse uma peça de teatro, um filme ou um livro. Algures pelo meio estamos nós e outras pessoas que conhecemos. Tudo o mais é distinto. Não roça sequer a realidade. Fica a quilómetros. Mas isso já não importa. A história que corre é outra. Nestes casos não há desmentidos em jornais, nem nas redes socais. Apenas uma inverdade que tomamos como verdade de tantas vezes a ouvirmos.

A vida é curiosa. 

1 comentário:

  1. É exactamente como o descreves, esta hábito de tirar ilações, comentar e opinar sobre o colega, o vizinho ou o desconhecido como se soubéssemos alguma coisa.

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