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sexta-feira, 29 de julho de 2016

dos amores paternais


 

Estava no supermercado na zona dos iogurtes e ouvi o senhor, idoso, um pouco surdo (talvez isso justificasse ter o som tão alto) dizer para o telemóvel:

- Mas filho, vens mesmo? É que da outra vez disseste que vinhas e não apareceste.

 E ouvi:

 - Vou pai, vou.

 E o senhor continuou:

- Eu sei que o teu prato não fica tão bem como a tua mãe fazia, mas...

- Pai, já disse que vou. Para de insistir.

- Está bem, filho, vou comprar os ingredientes e esperar que apareças.

 

Não sei o antes. Não conheço o senhor. Não conheço o filho. Apenas me comoveu aquele homem, que tremia e andava com dificuldade a tentar convencer o filho a ir jantar o prato que um dia, a mulher e mãe, fez com preceito. Nem sei por que motivo este diálogo mexeu comigo. Não sei... Relembro o dia longínquo, em que a minha mãe se encontrava internada com gravidade e o meu pai, sem o mínimo saber e jeito para a cozinha, fez uma massa com carne. Quando me sentei à mesa a massa era aletria. Comi até ao fim, comovida com aquele jeito que ele tem, meio frio e distante de ser, em me agradar, em me dar um certo colo, em transformar a ausência da minha mãe em algo mais suportável.

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