Estava no supermercado na zona
dos iogurtes e ouvi o senhor, idoso, um pouco surdo (talvez isso justificasse
ter o som tão alto) dizer para o telemóvel:
- Mas filho, vens mesmo? É que
da outra vez disseste que vinhas e não apareceste.
E ouvi:
- Vou pai, vou.
E o senhor continuou:
- Eu sei que o teu prato não
fica tão bem como a tua mãe fazia, mas...
- Pai, já disse que vou. Para
de insistir.
- Está bem, filho, vou comprar
os ingredientes e esperar que apareças.
Não sei o antes. Não conheço o
senhor. Não conheço o filho. Apenas me comoveu aquele homem, que tremia e
andava com dificuldade a tentar convencer o filho a ir jantar o prato que um
dia, a mulher e mãe, fez com preceito. Nem sei por que motivo este diálogo
mexeu comigo. Não sei... Relembro o dia longínquo, em que a minha mãe se
encontrava internada com gravidade e o meu pai, sem o mínimo saber e jeito para
a cozinha, fez uma massa com carne. Quando me sentei à mesa a massa era
aletria. Comi até ao fim, comovida com aquele jeito que ele tem, meio frio e
distante de ser, em me agradar, em me dar um certo colo, em transformar a
ausência da minha mãe em algo mais suportável.
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