Às vezes o relógio desperta-me
demasiado cedo e ensonada vou até à cozinha e enquanto estico o corpo e acordo
a alma com uma chávena de café, gesto primário dos meus dias, vou acreditando
que aquele pode ser um dia bom. Há quinze dias que não tinha este gesto. Estava
órfã. Não pensava muito nisso, porque tenho uma certa tendência em meter
debaixo do tapete aquilo que me doi e aquilo que me faz doer.
Hoje ela mandou-me uma sms. Disse
que mandava o filho a minha casa trazer-me uma coisa. E o puto, talvez o puto
com o olhar mais esperto que conheço, entra-me pela porta com uma máquina de
café. E eu renasci. Renasci por antever uma pequena esperança. Hoje acreditei,
um pouco mais, que um dia destes iria curar-me e iria conseguir ficar bem. E
tudo por causa de uma máquina de café. É que as coisas nunca são apenas os
objetos que vemos, nunca. O seu significado está implícito nos gestos de quem
comprou. E hoje, esse gesto, deu-me uma certa fé no futuro.
Obrigada T.
A chávena é uma pequena relíquia que a minha querida tia Palmira me deu. o tempo já a desgastou um pouco, mas o tempo fez o mesmo à minha carcaça. |
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