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domingo, 18 de dezembro de 2016

uma máquina de café não é apenas uma máquina de café


Às vezes o relógio desperta-me demasiado cedo e ensonada vou até à cozinha e enquanto estico o corpo e acordo a alma com uma chávena de café, gesto primário dos meus dias, vou acreditando que aquele pode ser um dia bom. Há quinze dias que não tinha este gesto. Estava órfã. Não pensava muito nisso, porque tenho uma certa tendência em meter debaixo do tapete aquilo que me doi e aquilo que me faz doer.

Hoje ela mandou-me uma sms. Disse que mandava o filho a minha casa trazer-me uma coisa. E o puto, talvez o puto com o olhar mais esperto que conheço, entra-me pela porta com uma máquina de café. E eu renasci. Renasci por antever uma pequena esperança. Hoje acreditei, um pouco mais, que um dia destes iria curar-me e iria conseguir ficar bem. E tudo por causa de uma máquina de café. É que as coisas nunca são apenas os objetos que vemos, nunca. O seu significado está implícito nos gestos de quem comprou. E hoje, esse gesto, deu-me uma certa fé no futuro.

Obrigada T.
A chávena é uma pequena relíquia que a minha querida tia Palmira me deu. o tempo já a desgastou um pouco, mas o tempo fez o mesmo à minha carcaça.

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