Numa outra vida tive um
namorado que me enchia de flores. Flores compradas e bonitas e perfeitas. Quem
me conhece bem sabe que não gosto de nada que seja perfeito. A imperfeição,
essa sim, atrai-me sobremaneira. Mas ele insistia em dar-me rosas perfeitas, amores-perfeitos
mesmo perfeitos, girassóis sem mácula de pecado e eu ficava a olhar para as
flores sem coragem para lhe dizer que preferia que ele parasse o carro quando
vinha do Alentejo para me ver e se esgueirasse por um campo dentro e apanhasse
flores de campo, batidas pelo vento, cheias de mossas dos bichos que as
habitam. Mas não, ele vinha e parava numa florista que a dada altura passou a
gostar mais dele do que eu, para escolher as mais bonitas, as mais perfeitas e
as que menos cheiravam a flores para me ofertar.
Nunca gostei de flores dessas
que não crescem paredes meias com os vinhedos do meu douro; nunca gostei de
flores que não me fizessem lembrar os canteiros da Luisa, ou os vasos da minha
mãe. Nunca.
A minha filha não pode ver uma
flor no beiral da rua que a vai apanhar para mim. E ela adora aquelas amarelas
que crescem ao mesmo ritmo que as ervas. Baixa-se e apanha-as e vem dar-me. Ela também não gosta das grandes e belas; ela
aprecia aquelas que a sua altura convida a serem apanhadas. E fico estarrecida
quando as agarra com os seus dedos pequenos e as protege do vento até ao
momento de me fazer chegar.
Vivo em Oeiras e se há terra
com flores é esta. E sempre que pego na minha filha para passear, vejo-a a
roubar uma ou outra flor para me dar e eu tento olhar em redor a ver se não vem
nenhum polícia municipal que nos multe por delapidarmos o património ambiental.
E fico ali a protegê-la enquanto ela ajeita o caule para o partir e dar-me. Nunca
tive coragem de lhe dizer que isso não se faz. Nunca. E nunca tive coragem para
as deitar fora. Guardo-as no carro, secas, muito secas, já sem cheiro, as
flores que a minha filha me vai dando.
Adorava os Malmequeres brancos que o meu marido teimava em apanhar, leia-se roubar, em locais públicos para me oferecer.
ResponderEliminarA Alfazema que tenho em casa é apanhada, por mim, numa rotunda mesmo nas "barbas" da Câmara, mas à cautela faço-o aos Domingos.
Deixo-lhe uma sugestão: fazer um herbário com as flores que a sua filha lhe dá, prensadas ainda "vivas" mantêm a cor e a forma.
Excelente sugestão que vou seguir. Obrigada
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