Páginas

sábado, 1 de novembro de 2014

Na véspera de fazeres anos, escrevo-te filha.


Querida filha, isto tem sido um enamoramento e tanto. Andamos por aqui entretidas com esta coisa de viver ainda ligadas pelo cordão umbilical que, certamente, tu cortarás mais cedo do que eu. Espantas-te com tudo, até com a grua que mexe no prédio em frente a nossa casa e eu penso que sorverás a vida um tanto ou quanto como eu: avidamente, o que não é coisa boa para corações frágeis. Andamos pelo mundo de mão dada, mesmo quando separadas, porque o físico, o universo não nos consegue apartar. Vives numa casa que aprecia o entusiasmo e a sede de loucuras. Parece-me que já cresce em ti um passaporte que te levará a conhecer este gigante mundo que às vezes parece, simplesmente, do tamanho de uma migalha. Andamos pasmadas por este amor gigante que nos atropela o sentimento de dia para dia, esticando e aumentando mais e mais. E dizemos, sem vergonha, que nos amamos, mesmo frente ao senhor que nos traz o chá de limão em chávena grande para mim e pequena para ti. Estes quatro anos passaram a correr, porque andamos a correr. Quantas vezes na pressa saíste de casa sem te penteares, com a boca suja da papa e de mão dadas a rirmos dessa desfaçatez para com a ordem instituída? E a cumplicidade quando te busco na escola e tu, suja, cheia de cores na bata, nas mãos, na cara me sorris como quem diz que foi um dia em cheio. E o fim do dia, em que só paramos na tua cama, na história que vai amolecendo o esqueleto e com jeito, e um tanto ou quanto de parcimónia, te preparo para dormir. No fim do dia somos sempre ‘felizes para sempre’. Talvez por isto, estes quatro anos voaram. Hoje é o teu último dia dos três, a excitação de me ajudares a fazer o teu bolo arrumou contigo. Adormeceste no sofá e eu parei tudo o que estava a fazer para te ver dormir. Talvez que este seja o meu mais gostoso passatempo: ver-te a dormir. A tua serenidade cura-me de todo o passado. Apaga partes do caminho.

Amanhã faz quatro anos que nascemos: tu como filha e eu como mãe. Ando feliz por existir assim, inteira, possante, para ti e por ti. Agora meu piolho, enquanto dormes, vou fazer o bolo arco-íris que me pediste. Porque só podias ter pedido um bolo cheio de cor: ele representa-te.


6 comentários:

  1. A prova de que os sonhos se realizam, é este teu sentido testemunho. Parabéns, Mãe! Parabéns Filha! Parabéns ao Amor.

    ResponderEliminar
  2. Fico sempre emocionada com este amor de mãe....

    ResponderEliminar
  3. Parabéns à filhota, mas também à mamã e que a vida vos continue a sorrir, sempre! Beijinhos

    ResponderEliminar